OLÁ, AMIGOS!

Como retribuir ao universo a dádiva da vida, pensava. Agradecendo a Deus todos os dias. Dividindo com o mundo o que de melhor me ocorresse na alma, o que eu mais amasse em mim. E respondia à minha própria busca: Arte, a única coisa que diferencia os homens. Eis então minha oferenda ao mundo, minha contribuição para a humanidade: minha arte. Melodia como veículo de minha poesia e vice-versa, minha arte sou eu, levando a quem quiser ouvir minha forma de compor, escrever e cantar o universo e o acontecer das coisas que vivencio. O que canto ou escrevo é o que há de mais profundo em meu coração. Rogo por agradar a quem me ouvir ou ler. Benvindos e obrigado pela visita! Newton Baiandeira





sábado, 15 de outubro de 2011

ATÉ QUANDO SE FECHAR A VISTA E ENQUANTO SONHO HOUVER




PASSAGEM DAS ANCAS
Newton Baiandeira

Ondas do mar em que ora me banho
E dessas montanhas que vejo feliz
Durante o tempo ao seu sempre passar
Algo me diz que não são belas e fundas
Quanto às ondas que bailam em seus quadris

Em que passa, qual fosse um samba
De alma bamba sei aos pares
De pobres mares, vãs montanhas

Mal sei se vai ou se volta
Só sei que assanha seu transcorrer
Meus olhos, sóis, mares, montanhas
E até e todo o tempo para por te ver.

E essa minh’alma sem trancas
À passagem das ancas
Voa... voares ensandecidos!

Laços, nós por desatar, e esse olhar perdido em ondas! NB

OLHAR INTERIOR
Newton Baiandeira

Diz que sou ausente.
É que olha o mundo
e não estou nele.

Se olhasse pra si mesma
me veria então, a esmo,
dentro do seu coração,
vasculhando sua alma.

Em tempo
Ausência não é fim
A giro mais profundo
Dispa-se do mundo
Vista-se de mim.

Nunca saí daqui!

VALE QUANTO PESA
Newton Baiandeira

Nas ruas tortas do império
Respiro o ar de minério em pó
Pulmões de aço, sou eu de ferro

Um imã aqui me prendeu
Num estado de alucinações
Em que me guardo e canto

Máquinas, vagões são meu olhar
Conto mil distâncias todo dia
Mas minha alma guia pra ficar

Abanando mão pro maquinista
Sou eu, então eternizado
Até quando se fechar a vista
E enquanto sonho houver

Ita, pedra, já não medra a bira
Nem se arreda o meu olhar
Não me vale quanto pesa
Nem me pesa tanto amar.

AS PEDRAS E CAOLHICES
Newton Baiandeira

Tiraram as pedras das ruas e meus pés perderam a direção.
Outros caminhos, maiúsculos e sem pedras em seu meio, os
conduzirão ao ouro fácil, imaginam eles.

Entre as pedras e meus pés, algo suspenso, sigo em linha reta.
Abengalado, abnegado, não vou nem volto, fico.

Apenas caminho sobre o moderno projeto, catando ausências,
contando maus-olhados de homens que, cegos, não olham onde
pisam, vesgos, não pisam onde olham.

ITABIRA
Newton Baiandeira

Itabira é o verso que não tem rima. A magia que surpreende o
mago. O primeiro trago no cigarro, após o café da manhã.
Itabira é a oração que o padre não aprendeu, a poesia que o poeta
perdeu, a canção que não encontrou intérprete.
Itabira é tocar o horizonte com os olhos, abraçar o infinito com
desejos e nunca tê-los escravos.
Itabira, meus senhores, é daqueles grandes amores que por não
sabermos amar, fechamos no peito e chamamos de saudade.


Durante a passagem do 163º aniversário de Itabira, amigos daqui e das mais distantes e Gerais Minas. Amigos de tantos e generosos Brasis. Amigos estrangeiros, de longe vista e pulsares perto, e que a tão cumplicidade amaram minha Itabira como se a seu próprio berço natal. Em nome de minha ITA, agradeço carinhosamente. Amo vocês de todo meu coração!

Canto meu povo, minha gente, minha Ita!NB

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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

E ENTÃO, MESMO À DOR, CANTAR



UM BALÉ
Newton Baiandeira

Vai bailarina, à roda,
Dizer que a terra gira
Que o tempo não pára.
E que nada se compara à
magnitude do ser imperfeito
E poder sonhar, concertos e
consertos a ver.
O equilíbrio, ei-lo arte!

Vida é movimento, dance!

PÉ DE PACIÊNCIA
Newton Baiandeira

O sol setembra, lembra o girassol
O raiar da nova estação
É primavera, Vera beija a flor
Ascender-se à chama do amor

Tem um pé de paciência
Por detrás das saliências
Tem um pé de paciência
Por detrás do pé de sal

O sol setembra, lembra o araçá
Vendo a primavera chegar
O arco-íris pousa no quintal
Feito fogo no matagal

Regar a flor no jardim, colher amor em mim.

MERGULHAR-SE
Newton Baiandeira

A vida ocorre ao seu redor, chora?
Há que trazê-la a si, menina!
Há que felina saltar ao léu, bailar
Ao som dessa magnitude de existir.

Há que lançar-se aos céus.
Há que navegar sem medos.
Os rochedos? Não vêem a nós!
Nós necessitamos de obstáculos
Pra sermos, inteiramente, felizes!

De uma felicidade conquistada à dor
Então, construída e habitada por nós
De alma e corpo, enfim, deuses.

O ápice? Os orgasmos? Pertencem aos
conquistadores! Cabem aos vencedores,
navegantes do caos; aos que fazem doar
essências ao bem, à paz, à harmonia das vidas,
à canção do universo.
Mergulhe no verso e a poesia te agradecerá,
Emprestar-lhe-á arrepios ao corpo, sonhos à vida,
orgasmos à alma!

Precisamos nos dedicar mais às imperfeições. São elas as coisas mais perfeitas que existem.

NESSES TEMPOS
Newton Baiandeira

Nesses tempos em que liberdade
Vias de nova ordem mundial
Se traduz em invadir países
Em que as diretrizes da moral
Nos revelam padrões de postura ilegal

Em que a paz nos aponta armas
Á procura de bélicas razões
Rolam lágrimas de petróleo
Democrático imbróglio de nações

Há que ser pessoa e ser pessoa é mais que ser
Resistir, sentir, não se omitir, calar, morrer

Nesse instante em que a obra prima
É tecer elogios ao banal
Misturar nada e qualquer coisa
Nivelar pra que fique tudo igual
De padrões a brasões
À lavagem geral
Nos quintais da lavanderia
À procura de ilógicas vazões
Rolam lágrimas, crocodilos
Anunciam retóricas, cisões

Há que ser pessoa e ser pessoa é mais que ter
Resistir, sentir, não se omitir, não se render

E então, mesmo à dor, cantar!

AMÉRICA DO AMOR
Newton Baiandeira

Nada poderá
Atrapalhar meus planos
Tudo que juntei
Por todos esses anos

Sonhos por viver
Na dimensão da vida
Trilhas que paguei
Viagens proibidas

Nada impedirá meus planos
De romper o tempo, voar

Sou uma mulher americana
Neolatina, além do Equador
Infinita, livre, leve e solta
Ave de alma exposta, meu amor

Nada no mundo se cria
Tudo se transforma em mim
Loba regada de luas de marfim

Libertas Quae Sera Tamen
Na linha do Equador
Na plenitude da América do amor

E o encantar-se de luas e encantar o mundo. Ei-la, e então revoluta, Mulher!

Imagem Google

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

MIRAR-SE, CONTEMPLAR-SE, DESCOBRIR-SE EM ONDAS



DEVANEIOS
Newton Baiandeira.

Penso, logo desisto! Eis que a perfeição só existe
no plural, como estado. Ou negue-se a Roda!

Ou pare o mundo!

DESCOBRIR-SE
Newton Baiandeira

Descobri-se, ir-se então a si, ao mundo.
Dar-se de vez ao sonho, guardar a si livre.

Tão vasto o mundo, tão largo o sonho, farto é o desejo
O sorriso a oferecer à parcela de sol conquistada
E nada impedirá seu sonho de romper o tempo, voar.

No ápice do viver/conviver a vida,
Achar-se então perdida na própria beleza.
Tonta de si, ávida de mais do que mais houver
E a vida a sobrar-lhe oferecida, intensa, imensa.

Há que fazer-se da terra em transe
Há que ressurgir de cada fogo
Há que se banhar de toda água
Há que tomar o mel de todo bálsamo

Mais que o arcanjo, anjo,
Há que ser mulher e dar á luz
Há que iluminar o universo
Há que imortalizar os homens

Pra que a eternidade não compreendida
Se faça à vida, pelo belo, pelo simples, pelo frágil
Pela inocência, ao equilíbrio, à consciência, enfim,
De que o universo, tenho pra mim, se chama Mulher!

Imensidões, infinitos, universo a desvendar.

CONTEMPLAR
Newton Baiandeira

Contemplando o horizonte
Reflito a fundo instante
Eis que de infinito preciso
Urge que de dor eu cante

E nem houvera juízo pra tanto amor
Que nem há que amor explicar-se, ora!
Fora isso, nem dois disso!

Dou-me as asas vestir
E, pássaro, entrego-me ao vento
Vôos famintos, adentro-me ao luzir

Então e tudo é só silêncio que desmorona
Amor que se destrona, falta que cavuca

E todo dia tenho que às dores
Emprestar vôos de águias e condores,
Por tão amores que esse peito inventa

Terra, maluca de jogar pedra
E esse meu coração que não medra
E essa minh’alma que já não se agüenta

Antes, em que perguntas
Se me aprumo, sem rumo, pra quê?
Se vou, se volto ou o quê?
Não mais sob medidas e pesos
Não mais preso a justificativas
Vou aonde não há perguntas buscar respostas.

Então e tudo é só silêncio que desmorona!

SETE MIRAR-SE
Newton Baiandeira

Contemplar-se às sete faces do espelho.
Entranhar-se às sete curvas da alma.

E, à calma, o amor aflorando a pele, após
rasgar o peito e abrir o coração ao mel/sal
da vida; achar-se, enfim, além do chão.

E, à palma da mão o bálsamo e a lâmina.

Ser ou não ser? Há que seja, há que vá!
Viver é um perigo, o perigo está à curva.

E não há reta precisa, inviolável, que leve
ao amor imenso, que ache o amor intenso.

Há que ser e ir.
Há que o amor seguir
Há de ser forte à lida
Há que ser toda à vida!

Mirar-se, admirar-se, descobrir-se única!

DE ONDULOSIDADES
Newton Baiandeira

Ondas me encantam
De mares e montanhas
Sou e vou, alma mergulhada
Em saltos, altos e baixos.

Às vezes, me desmontanho
E se Minas não tem mar
Faço-me aMAR o Rio

Deixo-me escorrer ao Corcovado,
Olhos de doze profetas no Cristo Redentor.

Longe o mar, eu cá de novo ao deslizar de serras
Montanhas ondulantes a muito mais que antes
A me entranhar de alívios, de contar corcovas
Às finas covas de meu eu quando findar.

Montanhas e mares, ondulares, pulsares em mim!

Imagem Google

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O EQUILÍBRIO À LUZ DO GIRO



BAILARINA
Newton Baiandeira

Há que a bailarina girar até que a alma se desprenda.

Tão equilíbrio, e o olhar despedaçado do fiel espectador.
Permanente observação de cada movimento ao traço.
Completa entrega do relógio ao tempo.
Não cabe ao olhar a dança, só o passo.

E, à providencial inquietude, a recém descoberta: não
são os seus olhos que rodam, é sua alma que conta
frangalhos.
É o amor que lhe diz que: vida é movimento, dance!
A cada giro, a certeza de um mundo infinito, deu-se
Asas e voou, ares de baryshnikov.

E a bailarina vê no olhar que a mira seu próprio olhar
a ver-se.

(E O GIRAR, FEITO A TERRA, EM TORNO DO PRÓPRIO EIXO. NB)


POR VIAS E VEIAS
Newton Baiandeira

Nas minhas veias te vejo a correr em fuga.
Vez e meia sinto na alma essa ruga.

Nas vias te caço a tão cansaço e falta de prumo.
Nas teias te traço, curvas e retas de emaranhado
rumo, rotas que levam a solidões e ausências.

Ah, dor que dói grande!
Em que te expandes, eis-me e então, lava de um
vulcão que se fingia extinto.

Ah, paixão que me dilacera!
Também, pudera, esse coração torto há pouco se
fingia de morto. Há que, agora e só, rogar pragas
no amor.

Ah, sangria desatada! Ai, quão aguda dor!
Fosse um condor e correria aos céus.
Mas, nem cabe a céus curar vigarices!

Você passa e nem dá olhos, e nem liga
Corre, ocorre, escorre em minha veia.
E ainda, mal educada, me diz vazios de boca cheia?

(EM QUE PASSO O OLHAR NEM HÁ MAIS PRA VER. NB)


VIAGEM
Newton Baiandeira

Agora eu sigo as ruas do azul
Arrebatado, pleno de magia
Mergulho na utopia, em busca
de tudo que eu possa somar ao
concreto que me circunda.

(ÀS VEZES, SALTA-NOS DO CORPO A ALMA, E TUDO ACONTECE. NB)

DE ALMA LAVADA
Newton Baiandeira

A chuva cai, lavadoira! Plim, plim, plim!
Dentro de mim entra e sai pelos olhos.

O que tomas por lágrimas de minha alma
São gotejares de um tempo de fertilidades
ao brotar de flores na terra.

Canteiros verdes, humanos
Semeares de alma florida

(CHOVE EM MIM, REGA CANÇÕES QUE SEMEIO AO MUNDO, ÀS
ALMAS FÉRTEIS. NB)

SONS DO SILÊNCIO
Newton Baiandeira

Não te quero à exata freqüência de minha voz.
Só te quero ouvir como se a sós gritasse seus medos e desejos.

Então, e só aí, beijar-te-ia, a calar qualquer som que não fosse à voz da alma.

(QUE CALE, ENTÃO E FUNDO, O AMOR EM NÓS. NB)

EXAUSTÃO
Newton Baiandeira

O homem do passado levou a terra à exaustão.
No limiar da grande catástrofe, o homem do
presente busca na preservação da natureza, meios
de transformar o que ainda resta num ambiente
digno de acolher as novas gerações.

(MEIO-AMBIENTE: O ÚNICO MEIO DE SALVAR A GENTE! NB)

Imagem Google

sábado, 20 de agosto de 2011

DO LUXO AO LIXO, O HOMEM DO HOMEM AO BICHO, O MUNDO



LÁGRIMAS DO TEMPO
Newton Baiandeira

Chove,
lavando
a cárie
da boca
do lixo,
molhando
a alma
dos bichos.

* Do luxo ao lixo, o homem.
Do homem ao bicho, o mundo.

PRA ESQUINA DAS LETRAS
Newton Baiandeira

Vou por esta rua
Levo uma idéia
Quiçá, pela rua de lá
Venha a trazer-se uma rima

A gente se encontra e tal
Pra uma jóia de lavras
Um poema acidental
Na esquina das palavras

* Aqui não é um lugar, só um estado de espírito.

ALÉM DOS FESTIVAIS
Newton Baiandeira

Estrelas que não brilham mais
À luz da imaginação
À solidão dos festivais
Cruel censura de canções

Que anunciavam o novo
Preparando o povo com seus refrões
Desfazendo armadilhas
Preparando trilhas para os corações

Falta despertar na gente
Uma canção de luxo ao lixo cultural
Vidas que não tem desvios
Produções em frios tons comerciais

Impostações vazias
Sem a poesia de tempos atrás
Às invenções do omisso
Sem ter compromisso
Não me valem mais

* E tudo se transforma em carnavais

ACORDAR
Newton Baiandeira

Acordar e as janelas abrir
Ensaiar um bom dia pro sol
Respirar a manhã e sentir
Não há nada de novo no ar

A não ser o gás de uma velha
usina que explodiu

Apesar de todas as guerras
Vamos ser e cantar
Ainda temos alguma esperança
De amanhã

Acordar e as janelas abrir
Ensaiar um bom dia pro sol
Respirar a manhã e sentir
Não há nada de velho no ar

A não ser a paz de uma geração
que evoluiu.

* Ao redor de uma usina nuclear há mais: mundos, vidas
e aconteceres; realidade e poesia, sonho e criatividade.

ALÉM MAR
Newton Baiandeira

Longe do mar
Nalgum lugar da América
Imensidões, descobertas mil

Meu coração, qual navegador, vai
Pulsares tais, ondas a mais
Velas da paixão, navegações
Bússolas e rotas do amor

Pulsações, amores de além mar
De te buscar, navegar, navegar
De tão remar fiz mil cabrais
E te vais, mar e mares além
Além dos barcos, Além das velas

* Imagem Google

domingo, 7 de agosto de 2011

NAS LAVAS DO VULCÃO



A PASSAGEM
Newton Baiandeira

Andas fundo n’alma
Não passarás ao raso da vida
Ficarás, flor renovada a cada primavera
Não te adentras, então passarás e só.

DESTERRO
Newton Baiandeira

No final da linha barro seco
Se mandou de alma em becos
O que tinha pra levar levou
Corpo, alma, desejos, sinas
E as esquinas que freqüentava
Lavam-se em lavas de vulcão

SEM REGRAS
Newton Baiandeira

Não se deixe escravizar pela gramática
Nem se abalar às estruturas poéticas
Diga o que diz-lhe o coração
Fale o que lhe couber a boca
A poesia é um acontecer
E alma não tem estrutura
Isso é coisa dos homens
Um escritor é um poeta está

BATIDAS DO CORAÇÃO
Newton Baiandeira

Vem ver o meu coração pulsar
É uma sensação de mão no pilão de amar

O sol parece que vai chover
E se acontecer o amor não virá

Ó, natureza, quão sombrias nuvens!
Será uma conspiração
Só pra ouvir as batidas do meu coração?

Soca pilão a que moa saudades
Ausência ensopada
Natureza invejosa.

RASGO OS ÓIOS DE TE VER
Newton Baiandeira

Tanto tempo a gente não se vê
Todo mundo fala bem docê
Tô cansado de rezar procê
De repente aparecer por cá

Flor de cheiro vivo de regar
Com as lágrimas do meu olhar
Horizontes vivo de buscar
Rasgo os óios de poder te ver

Sou um pássaro sem asa ai amor
O meu peito fogo em brasa queimou

Ai, amor, eu quis pagar pra ver
Dei na estrada pra longe docê
A distância traiçoeira
Me pegou numa rasteira
Tô pedindo seu perdão

Tô morando numa região
Sem antena de televisão
Sem notícia desse mundo
Num buraco meio fundo
Que eu chamo de solidão.

METALISMÃ
Newton Baiandeira

Pico do Amor
Meu Cristo Redentor, meu céu
Fonte de prazer
Eterna produção de mel

A cidade, lá embaixo
Se vale do que lhe vier
O trem na estação
E a vida vai seguindo a pé

Tudo é poesia à flor da pele
Vele o vale, quanto pesa uma paixão?
Que a fotografia não revele
O metalismã do coração.

Pedra Lisa é coisa do amor
Que só se explica
Na mais lavra rica da paixão.
“Vila da Utopia”
Que a razão identifica
Na fração mais rica do Japão.

A MESMA CANÇÃO
Newton Baiandeira

A mesma canção
Que a gente cantou
Quando era o amor
Um sonho pra nós

É a mesma que após
O pote de mel
Inverte o papel
E bate feroz

E essa dor!
Que saudade
Saudade de nós!

Ah, meu amor!
Assim não dá pra esquecer!
Lá vem você
Nas entrenotas dessa canção

Compartilhando meus dias
Varando luas e sóis
Marcando a minha agonia
De sustenidos, bemóis!

quinta-feira, 28 de julho de 2011

CANTO NOSSO DE CADA DIA



PATRIAMÃE
Newton Baiandeira

Amada pátria, mãe
De todas as manhãs
Sagrado coração da terra
O universo respira
Na força de teus pulmões

Os mártires, heróis
Cravados em teu chão
Refletem na explosão dos sinos
Meninos mais brasileiros
Do meu Brasil

Das hostes mais honestas
De virtudes tais
Das artes, atitudes
Velam teus quintais

Amada pátria mãe
Teus filhos geniais
Transformam dor em carnavais

CHORAMINGUANDO
Newton Baiandeira

Nalguma rua do bairro Pará
Um violão anunciava o tom
Um reco-reco vinha celebrar
O anoitecer da terra de Drummond

Um sete cordas passeava em si
Dedos e pensamentos nos bordões
Felicidade ainda morava ali
Entre ruelas, bairros, casarões

O bandolim jorrava poesia
O cavaquinho celebrava a vida
Choro chorado, bem temperado
Tirando lascas da minha paixão
E um sete cordas roendo as bordas
Das pratinelas do meu coração

Rego de choro a flor do abacate
Celebro a arte, “Vila da Utopia”
Choro chorado, bem temperado
Tirando lascas da minha paixão
E um sete cordas roendo as bordas
Das pratinelas do meu coração

ASAS DE MARCÉU
Newton Baiandeira

Feito Fernão na rota do sol
Céus infinitos, nuvens de fino algodão
Malabarismos ao léu, o meu limite é condor

Feito Capelo, meu beija-flor a rolar
Por primaveras astrais, desembrulhar horizontes

Feito Gaivota deixar a fonte jorrar
Vão minhas asas adiante do que viver navegar.

TOCAIA
Newton Baiandeira

Ê! Estradas de Minas, ê!
Ê! Paredes de barro, ê!
Ê! Espelho das águas, ê!
Ê! Apitos de trens, aê!

Espingarda armada, tocaia, ê!
Emboscada na encruzilhada, ê!

Cada serra esconde uma sombra
Cada monte guarda um gemido
Cada voz é um canto de medo
Um segredo bem escondido, ê!

Ê! Estradas de Minas, ê!
Ê! Caminhos que vão pro sol!
Liberdade é filha de lá!
Libertas Quae Sera Tamen!

Todo passo tem que passar por lá!
Toda estrada tem que passar por!
Toda a história passa por Minas!
O país é livre por Minas!
Cada voz é um canto de glória
Na memória viva de Minas, ê!

Ê! Conheço essa estrada, ê!
Ê! Sou filho de minas, ê!
Liberdade da pátria, ê!
Libertas Quae Sera Tamen!

OFICINAS
Newton Baiandeira

A canção que a gente faz
Se refaz em sílabas

Carnavais, temporais
Derramar de mel
Entornar de sal

São infernos, céus, invernos, verões

Nada como antes foi mais será
Estados da alma vão revelar
O sai e entra que se concentra dentro de nós
E na alquimia, à utopia , a poesia se faz

Durante o processo da criação, à alquimia de palavras
e sons, o ir às lavras da alma, às minas do universo, às
nascentes do acontecer da vida; entrar em frangalhos,
saír inteiro e farto. Às vezes, salta-nos do corpo a alma
e tudo acontece. NB Imagem Google

quinta-feira, 14 de julho de 2011

DEIXA-ME CANTAR MEU CANTO



Duas coisas me levam a marte: a felicidade, quando a mim se dá, pra dividi-la com o universo ou, à dor do caos e então, em fuga.

TRÊS PORTAS
Newton Baiandeira

Então
Quando o amor nos vem pela porta da frente
É como bálsamo que cura a solidão da gente
Feito uma luva que se encaixa
Em cada dedo, em cada mão
Feito um laço que se ajeita ao nó da ilusão

Então
Quando esse amor se vai pela porta do fundo
O coração, inconformado, quer matar o mundo
E no suplício da saudade
Sobre a cratera do vulcão
O que foi felicidade, agora é solidão

E quando a solidão se vai pela porta do lado
O coração pulsando, o peito já cicatrizado
Refaz a casa com cuidado
Enfeita de ramos de flor
Batem na porta da frente, chega um novo amor.

Ouvir a música:
http://www.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3DrZhcOYmv5Bg&h=fAQDb0UMN

ANJOS
Newton Baiandeira

São Gabriel
São Rafael
Meu São Miguel Arcanjo

Meu Querubim
Pede por mim
Cuida de mim, meu anjo

Virtudes soltas no gás
Quero a fortuna da paz
Meu Serafim do além
Guarda meus passos, amém!
Protege o meu coração
De toda desilusão

Asas de Deus,
Cuidem dos meus
Doces irmãos da arte

Fazei de nós
Dedos de Vós
Pintando em toda parte

Todas as formas da cor
Um arco-íris do amor
Meu anjo, São Gabriel
Guarda-me dentro do céu
Meu São Miguel Arcanjo
Cuida de mim, meu anjo.

Ouvir a música:
http://www.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fwww.myspace.com%2Fnewtonbaiandeira2%2Fmusic%2Fsongs%2Fanjos-67396256&h=-AQCN_Gip

DE BEM COM A VIDA
Newton Baiandeira

Enquanto eu viver
Quero estar de bem com a vida
Cantando os tributos
Do amor à liberdade
Se alguém perguntar pela dor
Diga alegria
Valeu cada verso que fiz à igualdade

E quando eu morrer, por favor,
Joguem meus restos
Distante do meu traidor
E cantem mil canções
Em sustenidos, bemóis
E somem os contras e prós
E deixem brotar girassóis
No meu jardim

Ouvir a música:
http://www.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3DIqvdlUKLH94&h=fAQCpNaD5

FIOS DA CANÇÃO
Newton Baiandeira/Luiz Bira

Canta uma canção
Que transforme a terra num coração
Que desfaça a guerra e a multidão possa cantar

A canção da gente, da semente, do brotar
Mas, que de repente, do viver, do festejar
Violão, punhal, estrela, bela manhã
Canta o canto dela, vida, cheira hortelã

Lâminas da vida, estrada, fios da canção
Fazei o plantio do sonho em nós

Ouvir a música:
http://www.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3D8WTQk5FziXM&h=FAQC-XUpk

domingo, 3 de julho de 2011

MÚSICA, POESIA, SONORAS LETRAS



BRILHO DE AÇO
Newton Baiandeira

Quando se fala em Ita,de escandaloso amor, minha alma grita. Berro, um som tal qual bater de ferro em céu, ao silencioso sangrar. Estrelas de tolo, fagulhas dançam ao léu, fantástico balé de lâminas.
Ao escarcéu, pulmões talhados em aço e os regurgitares de ferrugem. À cortina/luz, o sapo ainda namora a lua. E o poeta, inevitável, ainda inventa horizontes e futuros, dos quais duvida.
A despeito disso, a arte que lhe é peculiar propõe outros lumes e a Ita, quando Bira, qualquer brilhar outro é mentira.
A tão consolo, a minha alma canta em compasso de trens e solavancos, desafinada.

POR VIAS E VEIAS
Newton Baiandeira

Nas minhas veias te vejo a correr em fuga. Vez e meia, sinto na alma essa ruga.

Nas vias te caço a tão cansaço e falta de prumo. Nas teias te traço, curvas e retas de emaranhado rumo, rotas que levam a solidões e ausências.

Ah, dor que dói grande! Em que te expandes, eis-me e então, lava de um vulcão que se fingia extinto.

Ah, paixão que me dilacera! Também, pudera! Esse coração torto, há pouco se fingia de morto. Há que rogar pragas no amor.

Ai, quão aguda dor! Fosse um condor e correria aos céus. Mas, nem cabe a céus curar vigarices.
Você passa e nem dá olhos. Você corre, e nem liga, em minha veia. E ainda, mal educada, me diz vazios de boca cheia.

DE ETERNO GIRO
Newton Baiandeira

Ah, o amor!
Não fosse a dor,
talvez, não tanto o amasse.
Assim, não há o que lamentar
de seu legado a mim: mel e sal,
inferno e céu, bálsamo, vulcão.

Esse meu coração não cabe em si
de se dar, se perder, se queimar: se
achar, receber, se curar à seiva da vida,
de alma elevada ao tudo e todo orgasmo.

Queima-me! Rasga-me! Recolho meus pedaços
e de novo dou-me ao laminaço, e de novo me infinito aos findares e recomeçares.

Não me haveria vida sem amor ou amor sem chama. Há que se queimar por alcançar o paraíso.
Portanto, cruz pela luz, há que findar esse mundo, a vida não!

ZÉ MIAMI, O PRÓDIGO
Newton Baiandeira

Viver já não lhe cabia
A morte mais seduzia, pois é
Queria matar o mundo
Ó, que desgosto profundo
Com o que pulsa redor
Comprou passagem de ida
Voltar, não quero essa vida
Deixa esse barco afundar

Atravessou o mar
Metendo o pau na pátria amada
Nem lixo pro lixão
Esse sertão não vale nada, sou zé

Involuntário da pátria
Curtido a leite da mátria, foi Zé
Eis que aos primeiros contatos
Já bem cuspia no prato
Que sua fome sanou
E nos states a vida
Deu numa rua perdida
Como a rainha mandou

Atravessou o mar
Quanta saudade da favela, José
E a pátria mãe curtiu
O filho pródigo com sambas, pois é

COISAS DA CAPANGA DA BASTIANA
Newton Baiandeira

Bastiana, lá na minha adolescência:
“Ah, se eu pudesse e meu dinheiro
desse, num havia coisa que eu num
fizesse! Eu ouvia encantado, seus ditos.

Eu, na juventude, ela a ouvir:
Ah, se sesse! Mas, num esse!
Ela, ainda ali, ouvia e retrucava:
Como é que a coisa anda depois
da morte de Miranda!” E eu: “Ué,
quem não tem cão caça com gato,
quem não tem gato, late!”

E ela sempre falava: ”língua de povo
é língua santa, não erra.” Quão desdita,
Bastiana se foi. Mas seus ditos ainda me
ditam rumos de versorrimação.

O CANTADOR
Newton Baiandeira

Eu canto por cantar
Eu componho por prazer
Canto pra penetrar
no universo da mente
Eu vivo da minha voz
Seresteiro, cantador
Canto pra semear
O quebrar das correntes
Canto esperança e fé
Liberdade e união
Canto quem anda a pé
E caminha sem direção
Quem vive ao Deus dará
Quem esmola, pedindo pão
Canto quem semeou
A semente do perdão

UMHOMEM SEM TERRA
Newton Baiandeira

A gente acorda antes do sol sair
Pra dividir os ossos e o porvir da profissão
É cada um no cabo de uma enxada
Em cada légua, uma terra lavrada pra plantar

Num sol de tranças vermelhas
Eu sou um homem sem terra

Ao por-do-sol, agradecer a Deus
Os filhos Teus não perdem a esperança do amanhã
A noite é triste, a viola ponteia
Mesa vazia, a cabeça cheia faz cantar

Nas noites de lua cheia
Eu sou um homem sem terra

A gente dorme, assim como se diz
Fechar os olhos, fingir que é feliz
negar a dor
Se Deus existe, a terra prometida é
uma esperança
Enquanto eu tiver vida, vou sonhar
Nas madrugadas sombrias
Eu sou um homem sem terra.

domingo, 26 de junho de 2011

NO MEU JARDIM DA FANTASIA



DESPENCANDO DEPENADO
Newton Baiandeira

Pássaros são acusados de invasão do espaço aéreo.
E eu, a vida inteira, pensei que o céu fosse deles!
Até, imaginava que existissem antes dos aviões.
Descuidado? Acho que sou mesmo um asno alado!
A quem perguntou se “Eram os Deuses Astronautas”
fica aqui e enfim, mister Erich, a certeza comprovada: Eram Sim!

DE SOMBRAS E SOBRAS
Newton Baiandeira

Há vida em dúvidas e dívidas
Há dívidas entre ter e ser
Há dúvidas entre querer e poder
Sem qualquer sombra de dúvida
Sem qualquer sobra de dívida
Somos o que somos.
E o que somos, nem sempre, é o
que julgamos ser.
Ter não modifica isso. Apenas,
soma-se ao que somos.
Ao fim das contas, nada levamos.
Fica o que fomos, quiçá, sob aplausos.

CARTA LIVRE
Newton Baiandeira

Tronco, mais à cabeça.
Correntes, as de ventos.
Em que sou asas,
não guardo chão pra eternidades.
Liberdade: eis meu tempo e ordem.

À desordem de poderes, acordem-se
em celas, comam-se entre algemas.
Mas, não me sirvam pratos de solidão.

REAL MÁGICO
Newton Baiandeira

Os pés no chão,
mantenho-me em
permanente estado de poesia.
Qualquer descuido da realidade,
abre-se a gaiola, eu me dou a vôos.

ASAS DE AÇO
Newton Baiandeira

Irmãos do sol da América
Filhos do céu azul
Via de regra, eu pássaro, me vou

Pelo espaço
Asas de aço
Faço um compasso
Viro bagaço, enfim

O que será de mim
Se eu não puder voar
Com tantos aviões
Cortando o céu azul

Se meu destino é ave
Clave de sol no azul
Guiai a minha nave
América do sul

FANTASIA
Newton Baiandeira

Mire aquela chama
Que brilha lá no céu
É a estrela do oriente
É a promessa de uma nova luz

Há esperança em cada alegoria
Há tanta coisa pra se ver
Há tanta dança nessa fantasia
Tanta poesia a se viver

Vai, pega essa estrada
Já não há perigo
Brota do trigo uma nova flor

Vê, quanto caminho
Sozinho a te esperar
Vai, escolha sua estrada!
Siga as pegadas dessa nova luz

Vá, não pare nunca
Que esta vida é linda
E a dor só finda
Quando a gente ri!

NA CURVA DA ESTAÇÃO
por volta dos anos 1970
Newton Baiandeira

Tudo encaixa como luva
Lá na “Curva da Estação”
Pra casadas e viúvas
E solteiras da paixão
Destilarem ódios tais
Que pedrais fazem tremer
Seus maridos estiveram
Ou estão no cabaré

Homens de ferro, sem pudor
Vão buscar amor
Garotos loucos de paixão
A primeira diversão
Meninas doces como mel
Gatas de bordel
Fazem da curva da estação
Um pedaço do céu

Tudo ocorre num só porre
Lá na “Curva da Estação”
Bailarinas, moças finas
De divinas proporções
É pagamento da Vale
Quanto vale uma paixão?
Não importa, Inez é morta
Lá na “Curva da Estação”

terça-feira, 14 de junho de 2011

DE ALMA LEVE, AO VENTO



MUSA
Newton Baiandeira

Os olhos dela são templos
Deuses e ventos cantam a música
Os seus cabelos são teias
Elos, cadeias de sóis veranicos

Em sua boca as palavras têm ritmo, vida
Alma perdida no seu batom
Teço em tons o amor

Ando pra lá de ciúmes
Do seu perfume de aura oceânica
Óleos de brisas botânicas
Meu supersônico, meu amor

Em sua pele de seda
Que se proceda com toques mágicos
Mona de pele mais lisa
Sopro de brisa, beleza exótica
Enigmática sedução, oração, mito
Algo infinito entre o mal e o bem
Muito além do sol

Pontualidade britânica
Arte anatômica, forma, estética
Deusa embrulhada na túnica
Da espera única, meu amor

FANTASIA
Newton Baiandeira

Mire aquela chama
Que brilha lá no céu
É a estrela do oriente
É a promessa de uma nova luz

Há esperança em cada alegoria
Há tanta coisa pra se ver
Há tanta dança nessa fantasia
Tanta poesia a se viver

Vai, pega essa estrada
Já não há perigo
Brota do trigo uma nova flor

Vê, quanto caminho
Sozinho a te esperar
Vai, escolha sua estrada!
Siga as pegadas dessa nova luz

Vá, não pare nunca
Que esta vida é linda
E a dor só finda
Quando a gente ri!

PECADO ORIGINAL
Newton Baiandeira

Moça, mulher, menina, tesão
Dedos de Deus
Ápice divino, toque original
Quebras minha esquina
E me levas ao caos

Leveza natural do ser
Detalhe escultural da luz
Um anjo, estrela que conduz
Às considerações do amor

Eu te sinto, cálice de mel
Sei dos doces, fosse o teu zangão
Se eu pudesse te daria então
Corpo e vida, alma e coração

Lábios carmim, passas por mim
Pobre de mim, fera desvendada
Bicho em extinção
Pássaro sem asa
Brasa em sua mão

Um dia eu perco a sensatez
E mordo tua boca, então
Mostro-te as garras do leão
Faço-te um crime passional

Logo, algum juiz me leva ao tribunal
Condenas-me por pecado original
Cumpro pena numa cela de Alcatraz
Pago uma costela por um beijo a mais.

DOCE PECADO
Newton Baiandeira

Você é linda, mulher, tão menina
É tão latina essa América tua
Solta na rua, alma leve ao vento
Sou cata-vento girando em teu colo
Saio do solo e te encontro no espaço
No teu abraço sou tempo, sou vida
Asa partida, se você se parte
E se reparte entre os versos dos deuses

Vem, me perde, me acha
Encaixa-me no teu ventre
Que entre, que saia
Que caia no delírio

Reconheço-te no brilho dos astros
Sigo teu rastro num céu infinito
Doce, bendito pecado de anjos
Flautas e banjos inventam euforias
Sonhos, magias, folias, espasmos
Semens, orgasmos, libidos em chamas
Diz que me ama, eu te levo pro fundo
Dos mais profundos recônditos do amor

Reconheço-te no arco dos anjos
Sou teu marmanjo, me chama de menino
Algo divino entre o som e a palavra
Jóia de lavra no centro da terra

Erra quem diz que conhece a beleza
Tem alma tesa quem vive teu sonho
Olhos tamanhos mirando infinitos
Almas aos gritos, conflitos ao teu redor

segunda-feira, 6 de junho de 2011

MEU JARDIM DE INVERNO




NEVOANÇA
Newton Baiandeira

Camisa branca
Calça curta azul
Distintivo a meio pau

Não se via gente a metro
Só bruma à vista,
e o Conga escorregando
entre pedras de minério
até o Coronel José Batista.

Lições congelantes,
de tremer o pingo do i.
Frio saber de coisas!

O MANDA BRASA
Newton Baiandeira

Lá vinha o Manda Brasa.
Olhos que à névoa nada viam,
agora e então, ardiam por
fumaça de óleo diesel.
Inverno e inferno rimavam
espetáculos e obstáculos num
verso nada ecológico.
A beleza da neve tombava-se,
ia-se, à feiúra ascendida.

A MARIA FUMAÇA E A BRUMA
Newton Baiandeira

Da Maria, a fumaça se juntava à bruma.
Em que passava, deixava uma cortina de
invernos inusitados aos olhos da infância.
Já, à distância, a poeira branca baixava.
Às caras, pretas da fuligem resultante,
pairava, por alguns instantes, um novo
inverno de carnavais, confete e mascarados.

PIPAS AO INVERNO
Newton Baiandeira

As pipas subiam. Logo, sumiam de vista.
A linha da manivela desmentia altitudes
apregoadas. Quaisquer cinqüenta metros
acima e se ensopavam da névoa de julho.
Como se houvessem em nuvens, logo,
davam coietas as gerebas.

EM PRETO E BRANCO
Newton Baiandeira

A vida era um campo de murta
Pretinho, tal qual meu terno
Que tirava a calça curta
Lá, quando chegava o inverno.
A névoa cobria o campo
Da janela o que se via
Era um filme em preto e branco
De minha alma que morria.

FOG AO FOGO
Newton Baiandeira

O “Beco dos Porcos” e,
logo ao lado, o “Água Espaiada.”
Acima, o “Ponto dos Aflitos”.
À luz daqueles lugares,
indiferente à bruma, alheio ao
neblinaço, o inverno era requentado
prato a se degustar: o Fog ao Fogo das almas.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

À ALTURA DOS CÉUS A FUNDOS MARES


ASAS DE MARCÉU
Newton Baiandeira

Feito Fernão
Na rota do sol
Céus infinitos
Nuvens de fino algodão
Malabarismos ao léu
O meu limite é condor

Feito Capelo
Meu beija-flor a rolar
Por primaveras astrais
Desembrulhar horizontes

Feito Gaivota
Deixar a fonte jorrar
Vão minhas asas adiante
Do que viver navegar.

NAVEGAR
Newton Baiandeira

Rosa dos ventos
Estrela-guia
À calmaria meu barco vai
Velas além do cais
Onde o sol houver brilhar eu vou

Terras distantes por descobrir
Mares além
O amor me tem seu navegante
Imensidões
Riscos a ver
E o transcender me leva e me traz

Se me compraz
Do que viver
Meu navegar é mais

MÍNIMA PRECE
Newton Baiandeira

É mar quem gota se faz
Há que ser gota o homem humilde

De sua simplicidade à imensidão do mar
há que navegar-se de vidas e sonhos

Sal da cruz, sal da terra, sal do mar: a tríade!
Céus e anjos em curvaturas agradecerão tão honraria.

HOMEM SEM TERRA II
Newton Baiandeira

Quando olho as estrelas
Fico cego de distâncias
Contando silêncios
Surdo à babel

Só me vejo e a elas
Me dou ao seu pulsar
Encharcado de azul
Criança em mim

Quando estou no céu
Sou um homem sem terra
Até que amanheça
E minha alma desça
Ao navegar do caos.

SERENATA DA RECOMPOSIÇÃO
Newton Baiandeira

Da pedra em que paira a luz
o brilho cega o olhar.
Pedra lisa... Lua itabirana.

Que belo horizonte vê o olho
que mira do velho Pico do Cauê
além dos trilhos de um velho trem!

Forja o mar, deságua os olhos o cantador.
Coração de ferro/fogo na bigorna.

Enluarou, a pedra se destrona
Soberana, minha alma madruga,
Inteira... Intacta.

ARTISTAS
Newton Baiandeira

Mãos que se dão
Almas que vão
O artesão
Tecendo o infinito
No acontecer da arte

Parte de nós acende a luz
Transcende a cruz
Cavalga ao som da brisa
No dorso da inocência

Pa(Z)ciência, arte, sedução
Mundo dos homens!
O que há de diferente aqui na terra
É arte, vida, nada mais!

*Imagem Google

quinta-feira, 19 de maio de 2011

SOB A LUZ DA LUA, À SOMBRA DOS OLHOS




À SOMBRA DOS OLHOS
Newton Baiandeira

Se parcos meus gestos, vasto é meu coração de amar.
O sentir, se não visto, age em pulsações em mim.

Se não crês, à falta de gestos, ouse a desertos leitos curvar-se.
E saberás de timidez mais que de indiferenças.
Verás, e então, o amor que busca com olhos e tato.

Verás, por fim, que o amor em mim é um dar-se de corpos sós...
E almas inteiras a todo o universo.

LUNÁTICAS
Newton Baiandeira

Essa lua me deixa tonto
A breve findar.

Os dois à cheia
E esse controverso dos diabos
E esse amor dentro da garrafa
Feito anjo a beijar meu vício.

De sob lua o verso rasga as cordas
E essa garganta, a rosnar de cão,
Rimando espera com já vai tarde!

Uvas e luvas o vinho me cabe
O amor, quem sabe?

Eu deixo essa lua tonta
A breve despencar dos céus!

DE MALAS PRONTAS
Newton Baiandeira

Que bonito!
Partir é partir meu coração.

Repartir-se-á.
Ficarei pedaços a juntarem-se.

Dividir-se-á.
Ficarei quebra-cabeça a jogar-se.

Cão correndo atrás do rabo
Mijando em postes
Demarcando território alheio
Que feio!

MARIA RITA
Newton Baiandeira

Chego ao pôr-do-sol num caminhão
Corpo ensopado de suor
Ela me espera no portão
Coisa bonita de se ver
Maria Rita, meu amor!

Achega-se em mim caudalosa
Com cheiro de rosa, flor mais bela
Enrosca-se em meu pescoço com tanto alvoroço
Gosto dela!

Serve o jantar como se serve ao céu
Uma oferenda banhada de mel
Comida em fartos temperos do amor

Sob os lençóis, mil carinhos de amor
Mal fecho os olhos e o despertador
Avisa à hora e lá vem caminhão

De novo trabalhar
Pra poder sustentar Maria Rita.

SÃO FRANCISCO DE MINAS
Newton Baiandeira

Pontas de pedra, cancelas de Minas
Longas e velhas estradas de terra, Minas!

Em Guia Lopes nasce o São Francisco
Umedecendo os sedentos sertões de Minas!


Tira os segredos da velha canastra
Eis que se alastra e o mundo conhece Minas!

Água nascendo no olho da serra
Às vezes, penso que é o pranto da velha Minas!

Vão águas claras cortando o nordeste
Levam pros mares histórias da velha Minas!

São relampejos dos olhos brilhantes
Águas ao mar, São Francisco de Minas!

Topei no topo, um tope
Tô partindo agora
Pro sopé da serra
Tá chegando a hora

segunda-feira, 9 de maio de 2011

PÁSSARO NEGRO DA PAZ



QUILOMBO DOS PALMARES
Newton Baiandeira

Algemas e grilhões
Chibatas e canhões
Sangue do Oiapoque ao Chuí
Liberdade eterna, Zumbi
Tambores, tambores!
Vozes roucas da floresta
Palmares, nação Zumbi!

Fumaça/fogo que tange
Pra longe a escravidão
Pássaro negro da paz!
Brasil cantares nação!

Centelha viva, Palmares,
Candeia acesa na noite
Quebrando o nó das correntes,
Afugentando os açoites

Homem de fibra não dobra,
Curva no tombo e volteia
Junta o amor à coragem,
Mistura fogo, incendeia
Devolve a força do tombo,
Gira no lombo e semeia

Marca o ferro no couro cru,
Um poema de libertar: Zumbi, Zumbi!

Verso de sangue talhado
escrito à ponta de sabre
Poesia guerrilheira
porta que fecha e não abre

Quem tem as mãos algemadas
Ou traz nos pés a corrente
Tem um Palmares no peito
Feito uma estrela luzente
Ciente que a liberdade
Pode chegar de repente

Quem viu a morte de perto
nunca tem medo da vida
Não acredita em derrota
Nunca vê causa perdida

Mesmo que o vento não sopre
Mesmo que o sol não se acenda
A liberdade está pronta
Feito uma tira de renda
Barrando a saia do tempo
Abrindo estrias e fendas.

DO FIM AO INÍCIO
Newton Baiandeira

Me dá meus direitos, do fim ao início
“Chama eu de Sinhô, estrupício!”

Não sou teu mucamo, droga pro seu vício
“Chama eu de Sinhô, estrupício!”

Não sou teu escravo, dobra a língua
Ainda tenho a íngua dos grilhões
Quem cala consente, morre à míngua
Cansei da catinga em seus porões

Comprei minha carta de alforria
E (vosmicê) agora vai ter que me engolir
De negro, cafuzo, tão confuso
Eu tô mamelouco pra sorrir

TROPICADA
Newton Baiandeira
Latina América, léguas e milhas de amores
De liberdades guardadas por mil ditadores
Porto da fé que remove, quem sabe, montanhas
Força tamanha e sanhas e manhas gerais

Moça, menina, morena de Copacabana
Prepara a roupa de cama pro gringo deitar

Latina América, eu sou Brasis!
Raças exóticas tão pueris
Pindorama, eu sou do sol
Soy latina América!

Os mamelucos estão deveras mameloucos
Roucos, cafuzos confusos, difusos no caos
Índios e negros e brancos, lá vem fevereiro
Cantam segredos mulatos, mulatas se dão

Ao som do couro, passistas e porta-bandeiras
Rompem fronteiras, caminhos das índias e tal

Latina América
Sou carnaval
De alma histérica
Sou carnaval

Pindorama, eu sou do sol
Soy latina América

PERSONA NON GRATA
Newton Baiandeira

Eu feri a lei
Eu traí os ritos tais
Eu peguei a dor
Transformei em carnavais

Eu rompi limites
Eu quebrei fronteiras
Eu não caibo mais

Eu rasguei a teia
Eu furei a meia
Eu falei demais

Eu dei a cara à tapa
Eu saí do mapa
Somei dois com dois deram três
Ao fechar da casa
Eu bati as asas
Eis que cabe ao pássaro o céu

E por isso eu sou
Persona non grata

*Imagem Google

quinta-feira, 5 de maio de 2011

DIA DAS MÃES DIA DA LUZ DIA DO AMOR



MÃE DE DEUS
Newton Baiandeira
Mãe é isso!
Mãe é aquilo!
Mãe é assim, assado!
Mãe é quase Deus!

- Ora, Deus é tudo, é por inteiro!
- É, mas quando o bicho pega
a gente chama a mãe primeiro!

MÃEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!!!!!!!!

É A MÃE!!!
Newton Baiandeira
A paz
O amor
A paixão
O carinho
A perseverança

A mão que se estende
A mão que balança o berço
O colo que aquece
Os dedos que contam o terço
A luz
A vida
O mundo!

MÃE DA ETERNA LUZ

Quando me for
Não terei dor aguda
Nem remorso profundo
Terei sim saudades de mãe

Quando me for
Não terei mágoas nem fráguas
Terei sim, saudades de mãe

Quando me for
Não terei ido
Terei ficado
Guardado fundo
No fundo de mãe


ESTRELA DE URIEL
Newton Baiandeira
Te vejo sorrindo
Pra todos, pra tudo
Um riso tão fundo
Que o mundo faz-se alegrar

Te vejo à corrida
De mãe compreendida
Paixões inseridas
Das vidas de seu redor

Mulher pessoa seu papel
Estrela de Uriel
É compreender a luz que reluz

Mulher
Geraldamente em paz
A vida se compraz
À tua dimensão

BALA COM BALA
Newton Baiandeira

Mãe, eu cai no mundo que me adotou
Veja em que seu menino se transformou.
Nesse malabarista
Pássaro, equilibrista
Andando sobre linha do equador

Mãe, eu desaprendi as tuas lições
Mãe, eu perdi o terço e as orações
Mãe, esse trem tá feio
Se Deus não passar no meio
Vai ser um revolteio de explosões

Mãe, esse mundo é sina
Vende-se cocaína
Lá fora explode usina nuclear
Mãe, é bala com bala
Cobra comendo cobra
Mãe, é fome de sobra pra engordar

Mãe, inocência aqui sobrevive não
O ser humano baixa de cotação
Mãe me tira daqui
Mãe, leva eu pra aí
Mãe me retira dessa embarcação

Mãe, eu não tenho jeito pra ser herói
Mãe, eu tô mais perdido que a multidão
Um carregando a cruz
Outro buscando a luz
Olhando pra Jesus, pedindo pão

Mãe, é um pega-pega
Mãe, é um corre-corre
Mãe, é vive-morre sem por que
Mãe, é bala com bala
Cobra comendo cobra
Mãe, é fome de sobra pra viver

terça-feira, 26 de abril de 2011

NAS TRINCHEIRAS DAS PAIXÕES



NAVEGAR
Newton Baiandeira

Rosa dos ventos
Estrela-guia
À calmaria meu barco vai
Velas além do cais
Onde o sol houver brilhar eu vou

Terras distantes por descobrir
Mares além
O amor me tem seu navegante
Imensidões
Riscos a ver
E o transcender me leva e me traz

Se me compraz
Do que viver
Meu navegar é mais

A DOR PELO RISO
Newton Baiandeira

À dor do calvário, queres matar o mundo?
A dor te consome?
A razão te corrói?

Quando tua alma, faminta de alegria,
sedenta de sonhos e vôos se acabrunha,
é ela, tua dor, que vai pro fogão
preparar-te o melhor prato de risos.

Ao suco de céus de nuvens claras,
guarnece-te de asas, te instiga
E te diz: Vai, gaivota,
dar corpo ao espaço
a seu modo e tempo.
A luz que te cega
pela cruz que carregas,
Vai gaivota, vadiar no paraíso!

MINHA ETERNA CANÇÃO
Newton Baiandeira

Dá-me um beijo profundo
Tão fundo que chegue a minha alma.
Coloque a palma da mão no meu ombro
Em toques sutis
Sem esperar o amanhã
Destrave o teu soutien
Bota teu seio entre nós

Minha fera felina
Minha alma latina, mulher!
Meu café da manhã,
Meu cigarro, meu hortelã

Bota teu ventre
Que entre macio
Entre as minhas coxas
Pasmo à mercê dos orgasmos
Que fazem jorrar
Seivas e semens febris
Ganidos de alma feliz
Suor de corpos em paz

Meu lugar no futuro
Meu porto seguro, mulher!
Minha ginga, meu gol
Minha eterna canção, meu show

A ESTRELA QUE ME DESTE
Newton Baiandeira

Como a flor que brota no jardim
Uma porta a se abrir à luz
Como o sol que adentra o universo
Feito um verso a penetrar
No compasso da canção
Como a lua, dominando o céu
Feito a tinta no papel
O sorriso no olhar
Como a aranha tece a teia
Como a abelha faz o mel
Como a noite faz a estrela
Como a estrela brilha ao léu
Como, um dia, tu vieste
Todo o agreste se encantou
E a estrela que me deste
Toda a terra iluminou

Feito um arco-íris no verão
Um corisco solto pelo céu
Feito alguma essência que se exala
Ensinaste-me a solidão
A saudade dói em mim
Ando, sem saber a direção
Feito um carro em contramão
Vivo perto de morrer
Como a trilha cabe à curva
Como a luva cabe à mão
Como a uva cabe ao vinho
Como a chuva à inundação
Foste, assim como vieste
Todo o agreste se calou
A estrela que me deste
Nunca mais no céu brilhou.

NAS TRINCHEIRAS DAS PAIXÕES -1988
Newton Baiandeira
Amava Júlia Ana
Solenemente Ana
Dois amores tão iguais
No abismo das paixões

Dançava Júlia
Ana cantava soberana
Em profanas traduções
Das trincheiras do amor

Duas almas nuas em fulgor
Contornando luas de amor
Quando a luz do sol
Desatava o nó
Julia e Ana se fundiam numa só

Ruborizada Ana
Alucinada Júlia
Duas almas numa só
Revelando o amanhecer

Desviando às plagas, contornando a multidão
Em segredo Ana e Júlia Juliana são

Amedrontada Júlia
Amenizante Ana
Duas almas numa só
Revelando o amanhecer

À luz que irradia
O amor de cada dia
Ana e Júlia vão iguais
Nas trincheiras das paixões

quinta-feira, 21 de abril de 2011

ECOS DA SEMANA SANTA



ANJOS
Newton Baiandeira

São Gabriel
São Rafael
Meu São Miguel Arcanjo

Meu Querubim
Pede por mim
Cuida de mim, meu anjo

Virtudes soltas no gás
Quero a fortuna da paz
Meu Serafim do além
Guarda meus passos, amém!
Protege o meu coração
De toda desilusão

Asas de Deus,
Cuidem dos meus
Doces irmãos da arte

Fazei de nós
Dedos de Vós
Pintando em toda parte

Todas as formas da cor
Um arco-íris do amor
Meu anjo, São Gabriel
Guarda-me dentro do céu
Meu São Miguel Arcanjo
Cuida de mim, meu anjo.

PROCISSÕES
Newton Baiandeira

Displicentemente,
A gente segue em frente
Paulatinamente, a pé
Intimando deuses
Pra milagres santos
Pra justificar a fé

Procissões eternas
De doer as pernas
Pra se alcançar perdão
De tantos pecados
Mal interpretados
No antro da reflexão

Obras do demônio
E esse manicômio
Asas do infortúnio
Pairam sobre nós

Longe dos deveres
Párias dos poderes
Agradecem nosso algoz
Por manter acesa
A chama da pobreza
Que sufoca nossa voz

PALAVRA DE DEUS
Newton Baiandeira

Não faça sacrifícios pra chegar a mim
Pois não virá a mim aquele que não for feliz
Somente seu espelho pode refletir
Tudo quanto você é

Eu sou você no espelho
Eu sigo os teus conselhos
Eu faço tudo que você quiser

Pra ser feliz basta apenas me amar
E ninguém pode medir
Tempo, modo ou lugar

Ninguém tem passe livre pra falar por mim
Somente seu espelho na verdade é seu pastor
A vida viverá
Enquanto houver amor
Se você é feliz eu sou

DIVINO É O PERDÃO
Newton Baiandeira

Eu olho pro céu
E sinto pulsar
O meu coração, ó Deus!(Jesus)
Minha alma se enleva então
E em minha oração Senhor
Eu rogo por mim

E todo o redor
E todos, irmãos
De boa vontade, ó, Deus!
Por todos os filhos teus
Nos daí vossa paz, senhor!
Já sinto os sinais

No ar que respiro
À luz do sol da manhã
Nos rios e mares
Verdes mais do hortelã

Nos templos, fiéis
Nas tintas, pincéis
Nos homens de bem

Que impíos e ateus
São todos de Deus
Divino é o perdão

LUZ DE DEUS
Newton Baiandeira

A luz que brilha aqui
Não é a mesma luz
Que se produz na usina
A luz que me ilumina
É a luz do sentimento
Que vem do firmamento
E toca o catavento da paixão

O brilho dessa luz
Vem do amor de Deus
Chega-me sem um fio
Entra-me pela alma
Sem taxas ou tarifas
Sem corte repentino
O preço do Divino é minha fé!

HONRAR A CRUZ
Newton Baiandeira

Se te causa dor carregar tua cruz
Pensa com fervor no Senhor Jesus
Que sem qualquer culpa se sacrificou
Não se justifica teu clamor

Mira nosso rei
Com poder à mão
Se humilhar, sangrar por nossa estupidez
Se elevar ao pai e rogar por nós
Se isto não responde a tua lógica

Por seu pecado meu irmão
Pra aliviar a tua dor
Honre tua cruz
Nela padeceu Jesus

PELO PASSEIO
Newton Baiandeira
Vem meu amor
Pela Rua do Bongue
Brincar de ping-pong
Mirar o Castelinho
E desaguar na Matriz
Pôr carta no Correio
Pegar pelo passeio
Lições do ABC

Ali morava o poeta
Em frente era a Câmara
Se criava as leis
Vem além da Praça do Centenário
A Igrejinha do meu Rosário
A festa de Folia de Reis

Ah! Meu tempo de menino, a procissão
Ah! Um elo na corrente de orações

Moças, beatas no terço
Do fim ao começo
Lopinho e Lopão
Ai que saudades das bandas
Fazendo cirandas no meu coração

ANJOS DA NOITE
Newton Baiandeira
Meninos de rua
No jogo da sorte
Aos ventos do norte
Não sabem voar

Nos becos da vida
À beira da morte
Quais ventos do norte
Não podem voar

Ao som de rock and roll
Um copo de cerveja Skol
Vão aves marginais
Num céu de anjos canibais

Meninos da noite
Achados na vida
Por balas perdidas
Não podem voar

Pedaços da noite
No jogo do ódio
Não chegam ao pódio
Não sabem voar

Escravos da ilusão
Dos anúncios da televisão
Retórica do amor
No discurso de um governador

CICLO
Newton Baiandeira

Nascer, acesa a luz, brincar, correr
Sem se prender ao amanhã
Sorrir, acontecer, ganhar o sol
A vida é cheiro de hortelã.

Voar no tobogã, roda gigante,
O sonho preso num barbante,
A vida em volta de um balão.
Rolar nos movimentos do planeta
Não há boi-da-cara-preta,
Não existe solidão.

Crescer, sonhar, não ter, lutar, sofrer,
Desaprender a ser feliz.
Juntar, poupar, adoecer, juntar
Poupar riquezas pra amanhã.

Futuro pronto, o coração tá cheio
Uma carta do correio
Diz que é o fim da ilusão
Chorar, se arrepender e rogar praga
De repente, a luz se apaga
E é o fim da canção.

sábado, 16 de abril de 2011

TEM BELEZAS MINHA TRIBO




QUARUP
Newton Baiandeira

Movimentos de rara beleza
Versos de selvagem poesia
Ritmos aflitos de tambores
Compõem um magnífico espetáculo
De fé e dor e magia
Um ritual que revive os mortos
E emociona os vivos.

PALAVRA DE ÍNDIO
Newton Baiandeira

Eu não tenho pátria
Porque pátria é terra
E eu não tenho terra

Eu não tenho vida
Porque vida é liberdade
E eu sou cativo

Eu não tenho paz
Porque a paz é branca
E eu sou índio

CACHIMBO DA PAZ
Newton Baiandeira

Cadê o índio, seu oportunista
Que tinha terras de perder de vista?
Catequizado pelo padre jesuíta
Trocou apito pelo grito de guerra

Cadê a terra que virou colônia?
A Amazônia que virou estrada?
Que deu em nada, numa praça de Brasília
Pros meninos de família brincar de queimada?

Seu moço, cara-pálida, cadê o índio?
Cadê porto seguro pra se ancorar?

O dono dessa terra há muito se funai
Vendendo eletrônicos do Paraguai
Reserva de garimpo não dá sangue não

Riachos de mercúrio, que pesca infeliz
Meu caro jesuíta avisa ao meu país
Que mata de concreto não dá caça não.

CAFUZOS CONFUSOS
Newton Baiandeira

Sou latino-americano
Índio, negro, branco, tropical
Vivo aos trancos e barrancos
Mamelouco dos arrancos
Um cafuzo em mais confuso caos

Negro escravo da balbúrdia
Torres de babel
Escapando de esparrelas
Cenas toscas de novelas
Nas senzalas desses carnavais

De mãos dadas, pão e circo
Com futuros tais
Que nos barcos cabralhantes
Navegados mares dantes
Prometiam mil anos atrás

CABOS DE OUTRAS TORMENTAS
Newton Baiandeira

Mares além, desde a Cruz de Malta
Que mal nos sobra e bem nos falta
Que ainda aguardamos Cabrais
Desses brasis tropicais

Pra devolver o cocar ao índio
Lavar do tronco o sangue escravo
Pra caravela singrar
Numa favela pra ver

Mares que então, nunca dantes
Quaisquer navegantes
Ousaram singrar

Cabos de toda tormenta
Onde o mar se arrebenta
E se inventa afogar

Há que se ver como o fado samba
Há que saber que o meu povo bamba
Mais do que algemas, grilhões
Desfaz armadas do caos

MISTURANÇA
Newton Baiandeira

Mameluco mamelouco
Cafuzo confuso
Tá me dando parafuso
Na cabeça, mãe!

Sou brasileiro
Sou latino-americano
Europeu e africano
Índio, branco, moreno

O que é que eu faço
Com essa personalidade?
Sou da roça, da cidade
Ai, meu Cristo redentor!

Caboclo, pardo, caipira, caipora
Sou de dentro, tô de fora
Fui embora, tô aqui

Na minha veia
Tem sangue de todo mundo
E eu, nesse buraco fundo
Sem saber pra onde ir

Já tive rei, imperador e presidente
Sou chegado num repente
Tiro um samba no tambor

A terra gira
E eu não saio do atoleiro
Sou pedaço? Sou inteiro?
Diga, mãe, o que é que eu sou?


CARA PÁLIDA
Newton Baiandeira

Éramos cinco milhões de índios
E somos alguns mil
Bravos silvícolas ameríndios

Qual é, Brasil!

Vimos de guerra em guerra
Tomando terras de gente inválida
Que importa a vida humana!
O que vale é grana pra cara pálida

Ô,ô.ô,ô!

Me dê a terra
Leva um espelho
Couro vermelho e tal

Enche a moringa
Um litro de pinga
Vinda de Portugal

Troco essa mina
Por cocaína
Dou Novalgina pra tu
Computador
Carro importado
Troco pelo Xingu

MARES MINERAIS
Newton Baiandeira

Eu sou mulato
Eu lavo prato
E o que houver de lixo

Sou mameluco
Já mamelouco
Um índio, pé-de-bicho

Sou itabirano
Bandoleiro urbano
Vivo a contar vagões

Refazendo metas
Sonhos de poetas
Que não saem da estação

Sou mameluco, cafuzo
Mulato, caboclo
Meu bloco é tambor

Tô mamelouco, confuso
Muleta, cotoco
de guerras de dor

Eu sou cafuzo
Ando confuso
Num chão de ouro em pedra

Homem de ferro
Me fere, eu berro
E minha alma não medra

E nessa canoa
Mares sou Pessoa
Nunca dantes navegados
Mares minerais não cabem a Cabrais
Toda, minha alma voa

ACORDE UNIVERSAL
Newton Baiandeira

Ouviram da Amazônia um gemido
Dos povos da floresta universal
Lamentos de uma fauna que ardia
No fogo do descuido nacional
Agonizante flora que sangrava

À lâmina sutil da clava forte
A lágrima de um rio a se exaurir
E geme quem te adora à própria morte

Ao som da serra elétrica
E profundos acordes de tambores
A canção em códigos envia pelo mundo
Mensagens de uma raça em extinção

Fulguras, ó Brasil, florão da América
Que ao despertar do sono mais profundo
Fechemos nossas mãos num laço fundo
Pra vida deste mundo respirar.

Éramos 5 milhões de índios. Somos alguns milhares.Dia 19 de abril é DIA DO ÍNDIO!
Não esqueça, não deixe que esqueçam! Newton Baiandeira

domingo, 10 de abril de 2011

CANÇÕES AO CORRER DAS ÁGUAS



Às vezes, a própria sonoridade da palavra dá o fio melódico da canção que vou compor. Ainda que a peça, ao final da inspiração, se traduza apenas uma composição literária, percebo ali uma melodia incontida. Um tempo depois, ela salta do texto e me sobra apenas sinonimizar algumas palavras; e a harmonia entre letra e música acontece. Não consigo compreender isso. Essa indomabilidade me incomoda, assusta e encanta.

O SEMEADOR
Newton Baiandeira

É preciso regar de suor os canteiros do chão
É preciso afagar a semente na palma da mão
E sentir o tremor da emoção que a semeia nos dá
Acariciar a terra com toda a chama
Que queima nossa alma de plantador

É preciso vencer pelo mel a maldade do sal
É preciso entregar a si mesmo o direito de ser
E sentir que nascemos de novo no sopro de um sol
Que nos empurra às luzes de um novo tempo
E nos devolve a força de plantador

É preciso rever os milagres que a terra traduz
Em distâncias de flores e frutos do sêmem de Deus
E sentir desconforto de ver que ainda falta um refrão
Que ainda a canção é frágil pra ser um hino
Que ainda somos meninos sem direção.

FORA DA ÓRBITA
Newton Baiandeira

Vivo em permanente estado de poesia.
Algumas vezes, saio pra dizer besteiras,
Xingar o mundo, insultar o tempo;
Descompor o tirano, clamar à vida.
Aí, lembro de minha mãe a me corrigir:
“Menino, a vida é bela. A gente é que estraga ela!”
Então volto, agradecido, farto.

CAÇA E CAÇADOR
Newton Baiandeira

Me chama de prazer
Me trata por amor
Me chama pra brincar de caçador

E se esconde
Não responde
Meu amor.
Ai, que saudades de nós!

Desentoca
Sai da loca, por favor!
Já não agüento brincar
De caça e caçador.


CÓRREGO DA PENHA
Newton Baiandeira

Sai da nascente
Desce as escadas
Corta a cidade
E vai embora.
Visto de cima
Parecem lágrimas
Rolando dos olhos
Do velho Cauê.


FIM DA CANÇÃO
Newton Baiandeira

Bem-te-vi te via
Sabiá sabia do amor
que eu sentia ao te ver
No amanhecer do sol
Lá vinha o rouxinol cantar pra você.

Era um coração no peito a disparar
Inventando pulsações pra te ganhar
Você não quis ouvir meus ais
E se foi, sem mesmo dizer adeus.

Bem-te-vi me viu chorar
Sabia o sabiá que era ao final solidão.
Rouxinol emudeceu
E a vida compreendeu o fim da canção.


ÁGUA CORRENTE
Newton Baiandeira

Quem espera por mim
Não sabe a cor da mocidade
Não pintou com claridade
As cores todas da razão
Não me cobre a presença
Que a presença é tão difícil
Pode ser que o orifício
Continue a esperar

Água corrente
Amanhã finda janeiro
Normalmente fevereiro
Pinta no segundo mês
Mas certamente
Como a coisa tá mudada
Pode ser que de mancada
Dê janeiro outra vez

Outra vez eu perdi
A direção do pensamento
Corre estrada, voa vento
Corre o tempo sem parar
Para trás, ventania
Simpatia não te espera
Tu levaste a primavera
E eu nem sei pra onde olhar

Olhar depressa
Tem cheiro de mau-olhado
Coração apaixonado
Pela pele do Brasil
Brasil, gigante coração
Pele dourada
Da morena revoada
Que o meu coração partiu

Partiu pra longe, avoou
Qual passarinho avoador
Rasgou o céu
Cortou o véu e ninguém viu
Nas asas turvas do avião
Deixando curva a sensação
Deixando história
Pra memória do Brasil

Solidariedade
Mocidade independente
Sem lugar, sem presidente
Continente sedutor
Águas claras de rio
Pele fina de esperança
Lua nova, semeança
Terra solta que se abriu

Abriu a porta
Do meu peito aventureiro
Me tomou como um guerreiro
Em posição de atirar
Água corrente, coração aventureiro
Não tem pena do aguaceiro
Que afoga o meu olhar

sábado, 2 de abril de 2011

JANELA ABERTA




UM PÁSSARO NA JANELA
É sábado, tenho um sol inteiro à janela e uma canção inacabada... Bom dia grande, amigos!


EM SOL ALADO
Newton Baiandeira

Um pardal pousado à janela, que deveras!
Veio tão somente catar comida ou me lembrar de ir ver o sol?
Pronto! Lá vai ele, de asas alegres, papo cheio e missão cumprida!
Esse meu domingo começou em sóis e vôos.
Quiçá, há de terminar em pouso leve e sono sonhador!


ECLÍPSE DO AMOR
Newton Baiandeira

O sol só vê a lua quando a lua está no cio
O céu entra em rodopios
Quando os dois fazem amor
O sol inventa giros pro cortejo da amada
E a lua idolatrada inunda o céu com seus clarões

E rodam pelo céu, orgasmos de paixão
Gemidos sussurrantes, almas presas ao clarão
A terra se aparelha pra alcançar essa visão
Ao ver tamanho afã, discretamente o sol
Puxa a cortina e apaga a luz do seu farol
O eclipse do amor de lua e sol no azul
Somente o cantador enxerga a olho nu
Em breve a lua mansa traz ao céu sua barriga
O sol fazendo figa aumenta a luz do seu farol
Poeira de estrelas são meninas tão brilhantes
São filhas cintilantes do amor de lua e sol

AOS OLHOS DA LUA
Newton Baiandeira

A lua que mira a mira que alua
Faz-se nua à máscara real
Que, não fosse tal, mais veria de lua
Mais dar-se ia a miras e contemplações
Aos olhos da lua o homem de meia lua

DUALIDADE
Newton Baiandeira

Poeta e pessoa
A diferença é coisa à toa
Um enxerga o outro vê
Um escreve o outro lê

Poeta e pessoa
A diferença é coisa à toa
Um caminha o outro voa.

MEDITAÇÃO
Newton Baiandeira

Virá do ato a consequência
Da incência a sabedoria
E, na agonia do entremeio,
A alma fatigada buscará a paz

terça-feira, 8 de março de 2011

DIA DA MULHER, MÊS DE TERNURA, LUZ DE VIDA INTEIRA


MULHERES
Newton Baiandeira

Eu respeito essa mulher
Que produz da fé a decisão
Eu desejo essa mulher
Que transcende a chama da paixão
Entre orgasmos e lençóis
Sem perder o fio da razão
Pelos labirintos do poder
A cidadania de batom
Vai traçando um novo tom
Na cisão cirúrgica do caos
Cúmplice, parceira natural,
Mãe, mulher, amiga, pai, irmã
Brasileira ou afegã
O amor é um laço universal
Brilhará
Sempre quem compreender a luz
Carregarão a cruz do sol
Os homens da paixão fugaz
Que não apostam no amor
Útero, a liberdade efêmera
Se eternizará no amor
Todo futuro é fêmea,
Todo o universo é prazer

JÚLIA
Newton Baiandeira

Júlia, pega uma estrela no céu
Pra iluminar sua estrada, vai
Deixa seu corpo rolar

Júlia, todo o universo é você
No coração de quem fica aqui
Pelo prazer de te ver

Jura que nosso amor será
Sempre, esteja onde estiver
No azul do céu, na terra ou no mar
Mais do que o chão
As ondas, o sol, o luar.

AMÉRICA DO AMOR
Newton Baiandeira

Nada poderá atrapalhar meus planos
Tudo que juntei por todos esses anos
Sonhos por viver na dimensão da vida
Trilhas que paguei viagens proibidas
Nada impedirá meus planos
De romper o tempo, voar

Sou uma mulher americana
Neo-latina além do Equador
Infinita, livre, leve e solta
Ave de alma exposta, meu amor
Nada no mundo se cria
Tudo transforma-se em mim
Loba regada de luas de marfim
Libertas Quae Sera Tamen
Na linha do Equador
Na plenitude da América do amor

JULIETA
Newton Baiandeira

Ó, Julieta!
Em que gaveta desses de se trancar?
Em que lugar se esconde?
Me diz aonde que eu chego já!

Vou lhe beijar o beijo mais fundo
Que o mundo viu beijar
Vou semear seu colo profundo
Pra vida se alastrar

Qual luz de uma estrela
Só quero vê-la a me guiar, guiar
No rumo a passo lento
Sem desavento pra me atentar

Um riacho, um cacho de prazer
Um amanhecer de rouxinóis
Seda nos lençóis
Linda de se ver,
Uma casa branca de sapê

Se você estiver ouvindo esta canção
Se quiser meu coração é só dizer
Que eu vou viver a vida até morrer
Só pra te amar, só pra te amar
Só pra te ama.

NAS TRINCHEIRAS DAS PAIXÕES
Newton Baiandeira

Amava Júlia Ana
Solenemente Ana
Dois amores tão iguais
No abismo das paixões

Dançava Júlia
Ana cantava soberana
Em profanas traduções
Das trincheiras do amor

Duas almas nuas em fulgor
Contornando luas de amor
Quando a luz do sol
Desatava o nó
Julia e Ana se fundiam numa só

Ruborizada Ana
Alucinada Júlia
Duas almas numa só
Revelando o amanhecer

Desviando as plagas, contornando a multidão
Em segredo Ana e Júlia Juliana são

Amedrontada Júlia
Amenizante Ana
Duas almas numa só
Revelando o amanhecer

À luz que irradia
O amor de cada dia
Ana e Júlia vão iguais
Nas trincheiras das paixões

HELENA DE PRIMO
Newton Baiandeira

Essa escultura parece uma helena
Qualquer uma helena que venha do mar
Qualquer estrela que seja morena
Qualquer uma helena
Mulher que será
Que sai do prumo, escapa do limo
Helena de Primo que eu fiz batizar
Que seja fêmea, irmã, mãe e filha
Um pai de família
Que saiba enfrentar
Que tenha no rosto
As marcas de agosto
Que tenha nos ombros
A marca da cruz
Que seja Jesus, Maria e José
Um barco de fé
Que assuma esse mar
Eu fiz helena por falta no entalhe
Não fosse um detalhe
Um sopro vital
Seria só uma estátua no limo
Helena de Primo Fulana de Tal.

MUSA
Newton Baiandeira

Os olhos dela são templos
Deuses e ventos cantam a música
Os seus cabelos são teias
Elos, cadeias de sóis verânicos
Em sua boca as palavras têm
Ritmo, vida
Alma perdida no seu batom
Teço em tons o amor

Ando pra lá de ciúmes
Do seu perfume de aura oceânica
Óleos de brisas botânicas
Meu supersônico
Meu amor

MARIA RITA
Newton Baiandeira

Chego ao pôr-do-sol num caminhão
Corpo ensopado de suor
Ela me espera no portão
Coisa bonita de se ver
Maria Rita, meu amor

Se achega em mim caudalosa
Com cheiro de rosa, flor mais bela
Se enrosca no meu pescoço com tanto alvoroço

Gosto dela!

Serve o jantar como se serve ao céu
Uma oferenda banhada de mel
Comida em farto tempero de amor

Sob os lençóis, mil carinhos de amor
Mal fecho os olhos e o despertador
Avisa a hora e lá vem caminhão

De novo trabalhar
Pra poder sustentar Maria Rita.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

VERDES ECOS DA AMAZÔNIA

“Engana-se quem pensa que Carlos era triste...”

Thiago de Mello me trouxe um novo Drummond. Sem as sombrias representações, tão e então a mim historiadas e, às vezes, compreendidas na obra do Itabirano, a nova imagem desvendou em mim, mistérios que havia entre o mito e o homem Carlos. Ao relato da sua longa e intensa convivência com o Poeta Maior, Thiago de Mello era bálsamo à minha ferida. Eu reencontrava ali o menino do balão, o espírito lúdico.

BUTECO CULTURAL

Madeira entalhada à porteira anunciava o São Francisco De Minas no sempre novo Caminho Novo: “Boteco não, buteco! E noves fora, meu!”
O primeiro freguês tinha direitos: não pagava a primeira dose nem o primeiro tira-gosto, e podia escolher a primeira música. Sebastião Silvatara era a chave que abria e, ás vezes, fechava o etílico.

- “Baiandeira, São Francisco de Minas é muito grande. Aqui devia chamar Buteco Cultural.”
- Ô, Tião, mas todo boteco é cultural!
- “Pode ser, mas o que tem Sebastião SIL- VA-T A-R A é mais, noves fora!”
- São Francisco é santo, é rio...
- Noves fora, Alá os capetas se afogando em pinga! (Risos de boca inteira)
- Você não sabe o que diz, Tião!
- E você? Sabe por que é que o cabrito caga redondo?
- Não, não sei. E daí?
- Ué, você não entende de bosta e quer entender de buteco mais do que eu? Se me der mais uma na risca do copo, eu canto. E melhor que você. Eu sou Tião SIL- VA-T A-R A, eu sei das coisas!

Três dedos da Caninha de Ferros e ele abria a goela:
“Vou te contar como vai ser meu casamento
Com a filha do sargento da Guarda nacional
Já comprei calça, paletó, camisa fina
Só me falta uma botina de pelica especial...”

Não sei qual saudade ecoa mais em mim, se a do primeiro boteco ou do primeiro freguês. Nem se mais silva ou tara. Sei que em Ita o mato é dentro!

Letras de Música:

CICLO
Newton Baiandeira
Nascer, acesa a luz, brincar/
Correr sem se prender ao amanhã/
Sorrir, acontecer, ganhar o sol/
A vida é cheiro de hortelã/
Voar no tobogã; roda gigante/
O sonho preso num barbante/
A vida em volta de um balão/
Rolar nos movimentos do planeta/
Não há boi-da-cara-preta/
Não existe solidão/
Crescer, sonhar, não ter, lutar, sofrer/
Desaprender a ser feliz/
Juntar, poupar, adoecer, juntar/
Poupar riquezas pra amanhã/
Futuro pronto, o coração tá cheio/
Uma carta do correio/
Diz que é o fim da ilusão/
Chorar, se arrepender e rogar praga/
De repente a luz se apaga/
E é o fim da canção.

DEMORAS
Newton Baiandeira
Quem rebusca esmera. Vive à espera, angustiosa, terrível.

De tão rebuscado traço, não há esmero de olhar tão perto e hábil que faça cooptar seu tempo.
Tanto rebuscar no fazer... Delonga o prazer da contrapartida.

Em tão estado de solidão, não lhe ocorre ignorâncias tais nem se lhe permite à vaidade consentir indiferenças.

Senãos contados, de sanar-lhe a dor de ego ferido só o tempo dará cabo.

DE PRA
Newton Baiandeira
Rir é sempre de. Sorrir é pra.
Sorria pro riso! Não é ordem, mas é uma questão de estado!

Homem é de. Pessoa é pra. De homem pra homem, somos, de mundo pra mundo, fundados, fadados, findados,pensantes e então errantes. Imensos e fundos.

Tanta grandiosidade, não lhe cabe ocos e pequenices!


A ARTE NO MURO
Newton Baiandeira
Nem de Sartre, nem de Fidel, de Berlim ou China. Nem de pedras ou rosas.
Nem de tucanos ou de urubus; a dividir vontades e idéias. Muros deveriam servir somente às artes e encartes. Espaço de contato entre os olhos e o simples belo
Reações, transgressões: imagens inipócritas do eterno conflito entre bem e mal.
Cabem ás manifestações e expressões do espírito como luvas ao dedo de Deus.
Mais que divisor, um elo entre liberdades: eis ao que serve um muro.