OLÁ, AMIGOS!

Como retribuir ao universo a dádiva da vida, pensava. Agradecendo a Deus todos os dias. Dividindo com o mundo o que de melhor me ocorresse na alma, o que eu mais amasse em mim. E respondia à minha própria busca: Arte, a única coisa que diferencia os homens. Eis então minha oferenda ao mundo, minha contribuição para a humanidade: minha arte. Melodia como veículo de minha poesia e vice-versa, minha arte sou eu, levando a quem quiser ouvir minha forma de compor, escrever e cantar o universo e o acontecer das coisas que vivencio. O que canto ou escrevo é o que há de mais profundo em meu coração. Rogo por agradar a quem me ouvir ou ler. Benvindos e obrigado pela visita! Newton Baiandeira





sábado, 16 de abril de 2011

TEM BELEZAS MINHA TRIBO




QUARUP
Newton Baiandeira

Movimentos de rara beleza
Versos de selvagem poesia
Ritmos aflitos de tambores
Compõem um magnífico espetáculo
De fé e dor e magia
Um ritual que revive os mortos
E emociona os vivos.

PALAVRA DE ÍNDIO
Newton Baiandeira

Eu não tenho pátria
Porque pátria é terra
E eu não tenho terra

Eu não tenho vida
Porque vida é liberdade
E eu sou cativo

Eu não tenho paz
Porque a paz é branca
E eu sou índio

CACHIMBO DA PAZ
Newton Baiandeira

Cadê o índio, seu oportunista
Que tinha terras de perder de vista?
Catequizado pelo padre jesuíta
Trocou apito pelo grito de guerra

Cadê a terra que virou colônia?
A Amazônia que virou estrada?
Que deu em nada, numa praça de Brasília
Pros meninos de família brincar de queimada?

Seu moço, cara-pálida, cadê o índio?
Cadê porto seguro pra se ancorar?

O dono dessa terra há muito se funai
Vendendo eletrônicos do Paraguai
Reserva de garimpo não dá sangue não

Riachos de mercúrio, que pesca infeliz
Meu caro jesuíta avisa ao meu país
Que mata de concreto não dá caça não.

CAFUZOS CONFUSOS
Newton Baiandeira

Sou latino-americano
Índio, negro, branco, tropical
Vivo aos trancos e barrancos
Mamelouco dos arrancos
Um cafuzo em mais confuso caos

Negro escravo da balbúrdia
Torres de babel
Escapando de esparrelas
Cenas toscas de novelas
Nas senzalas desses carnavais

De mãos dadas, pão e circo
Com futuros tais
Que nos barcos cabralhantes
Navegados mares dantes
Prometiam mil anos atrás

CABOS DE OUTRAS TORMENTAS
Newton Baiandeira

Mares além, desde a Cruz de Malta
Que mal nos sobra e bem nos falta
Que ainda aguardamos Cabrais
Desses brasis tropicais

Pra devolver o cocar ao índio
Lavar do tronco o sangue escravo
Pra caravela singrar
Numa favela pra ver

Mares que então, nunca dantes
Quaisquer navegantes
Ousaram singrar

Cabos de toda tormenta
Onde o mar se arrebenta
E se inventa afogar

Há que se ver como o fado samba
Há que saber que o meu povo bamba
Mais do que algemas, grilhões
Desfaz armadas do caos

MISTURANÇA
Newton Baiandeira

Mameluco mamelouco
Cafuzo confuso
Tá me dando parafuso
Na cabeça, mãe!

Sou brasileiro
Sou latino-americano
Europeu e africano
Índio, branco, moreno

O que é que eu faço
Com essa personalidade?
Sou da roça, da cidade
Ai, meu Cristo redentor!

Caboclo, pardo, caipira, caipora
Sou de dentro, tô de fora
Fui embora, tô aqui

Na minha veia
Tem sangue de todo mundo
E eu, nesse buraco fundo
Sem saber pra onde ir

Já tive rei, imperador e presidente
Sou chegado num repente
Tiro um samba no tambor

A terra gira
E eu não saio do atoleiro
Sou pedaço? Sou inteiro?
Diga, mãe, o que é que eu sou?


CARA PÁLIDA
Newton Baiandeira

Éramos cinco milhões de índios
E somos alguns mil
Bravos silvícolas ameríndios

Qual é, Brasil!

Vimos de guerra em guerra
Tomando terras de gente inválida
Que importa a vida humana!
O que vale é grana pra cara pálida

Ô,ô.ô,ô!

Me dê a terra
Leva um espelho
Couro vermelho e tal

Enche a moringa
Um litro de pinga
Vinda de Portugal

Troco essa mina
Por cocaína
Dou Novalgina pra tu
Computador
Carro importado
Troco pelo Xingu

MARES MINERAIS
Newton Baiandeira

Eu sou mulato
Eu lavo prato
E o que houver de lixo

Sou mameluco
Já mamelouco
Um índio, pé-de-bicho

Sou itabirano
Bandoleiro urbano
Vivo a contar vagões

Refazendo metas
Sonhos de poetas
Que não saem da estação

Sou mameluco, cafuzo
Mulato, caboclo
Meu bloco é tambor

Tô mamelouco, confuso
Muleta, cotoco
de guerras de dor

Eu sou cafuzo
Ando confuso
Num chão de ouro em pedra

Homem de ferro
Me fere, eu berro
E minha alma não medra

E nessa canoa
Mares sou Pessoa
Nunca dantes navegados
Mares minerais não cabem a Cabrais
Toda, minha alma voa

ACORDE UNIVERSAL
Newton Baiandeira

Ouviram da Amazônia um gemido
Dos povos da floresta universal
Lamentos de uma fauna que ardia
No fogo do descuido nacional
Agonizante flora que sangrava

À lâmina sutil da clava forte
A lágrima de um rio a se exaurir
E geme quem te adora à própria morte

Ao som da serra elétrica
E profundos acordes de tambores
A canção em códigos envia pelo mundo
Mensagens de uma raça em extinção

Fulguras, ó Brasil, florão da América
Que ao despertar do sono mais profundo
Fechemos nossas mãos num laço fundo
Pra vida deste mundo respirar.

Éramos 5 milhões de índios. Somos alguns milhares.Dia 19 de abril é DIA DO ÍNDIO!
Não esqueça, não deixe que esqueçam! Newton Baiandeira

Nenhum comentário:

Postar um comentário