OLÁ, AMIGOS!

Como retribuir ao universo a dádiva da vida, pensava. Agradecendo a Deus todos os dias. Dividindo com o mundo o que de melhor me ocorresse na alma, o que eu mais amasse em mim. E respondia à minha própria busca: Arte, a única coisa que diferencia os homens. Eis então minha oferenda ao mundo, minha contribuição para a humanidade: minha arte. Melodia como veículo de minha poesia e vice-versa, minha arte sou eu, levando a quem quiser ouvir minha forma de compor, escrever e cantar o universo e o acontecer das coisas que vivencio. O que canto ou escrevo é o que há de mais profundo em meu coração. Rogo por agradar a quem me ouvir ou ler. Benvindos e obrigado pela visita! Newton Baiandeira





segunda-feira, 25 de outubro de 2010

UM OLHAR ITABIRANO SOBRE O POETA CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

O POETA
Newton Baiandeira

Ei-lo: palavra na boca do tempo,
Sentimento no coração do mundo.
Trilhos e trilhas da alma itabirana

CASAS
Newton Baiandeira

Numa, ele nasceu; noutra cresceu. Uma terceira, mais funda na memória, virou história de muitos pedaços. Poetas criam asas! Com tantas casas, ele preferiu pousar outros galhos do mundo.

ENIGMA
Newton Baiandeira
Às vezes me deito na rede e fico a imaginar o que se passa entre o retrato e a parede.

FALAS
Newton Baiandeira

Uns falam muito em Drummond duas vezes por ano.
Outros pouco, todos os dias.
Uns não falam, só sentem.
Outros nem sentem.
Drummond são todos os sentidos da palavra.
Itabira é o amor em todas as nuances da paixão,
dividida entre os que vivem nele,
os que vivem com ele e os que vivem dele.
Todos, de formas diferentes, o amam.
Por amor, dinheiro ou política.

SER ITABIRANO
Newton Baiandeira

Ser itabirano
é
Contar
Vagões
Reverenciar
Drummond.
E, numa eterna alquimia,
forjar de ferro e poesia,
um jeito especial de viver,
sonhar e administrar paixões.

MIRANTE
Newton Baiandeira

Há um poeta, longe, onde tudo é grande.
O mar é grande, a calçada é grande no seu mundo largo.
A pedra, as almas de ferro; os horizontes de noites brancas sem mulheres, ao longe contam distâncias no relógio da matriz.
Há um poeta longe.
Sua poesia vem aqui ao pé do ouvido, à vista dos olhos, à porta do coração.
Não há distância. No fundo, há um poeta no fundo da alma.

DUALIDADE
Newton Baiandeira

Poeta e pessoa
A diferença é coisa à toa
Um enxerga o outro vê
Um escreve o outro lê
Poeta e pessoa
A diferença é coisa à toa
Um caminha o outro voa.

UMA RUA ITABIRANA
Newton Baiandeira

Havia um poeta nessa rua. Guardo em meus olhos o mais pesado silêncio que sua ausência consentiu. Ele se foi. Talvez buscasse uma rima desgarrada, sei lá! Só sei que ele não voltou e o máximo que me permite é essa rua, encharcada de sua magia.

O CRAQUE
Newton Baiandeira

Pelé de palavra
Mané de penas tortas
Toque de gênio
Goal de letra


UM DIA DE MORTE
Newton Baiandeira

À tarde, o plantão jornalístico anunciou: faleceu hoje o poeta Carlos Drummond de Andrade.
Aqui, levantaram bandeiras e montaram palanque e fizeram discursos.
Silêncio! Pensei.
Na agonia desse instante, me pediram pra falar de Drummond.
- Mas Drummond não é palavra, é sentimento. Eu sinto muito!

VIAGEM
Newton Baiandeira

Agora eu sigo as ruas do azul, arrebatado, pleno de magia. Mergulho na utopia em busca de tudo que eu possa somar ao concreto que me circunda.

RECONSTITUIÇÕES
Newton Baiandeira

Vão reconstituir a “Fazenda dos Doze Vinténs” do poeta Carlos Drummond de Andrade. Que nobreza!
Não obstante, ela vai ser reerguida onde o “Maior Trem do Mundo” desova seus rejeitos.
Homens firmes e retos aplaudem. Homens flexíveis e tortos choram impotentes.
Dúvida atroz; às vezes, penso que a despeito da melhor das intenções, entregamos um guerreiro ao seu algoz.

O ILUSTRE VISITANTE
Newton Baiandeira

A porta está aberta, como sempre esteve nesta humilde casa. Estamos à mesa posta. Alimentamo-nos do pão de tua poesia; o que nos dá sustança pra tirarmos pedras dos caminhos de corações céticos e inseri-lo lá.
Havia dias em que empreendíamos toda energia que tínhamos sem resultado.
Então, recarregávamo-nos de tua palavra, voltávamos à carga e vencíamos todas as batalhas, uma a uma.
Foram tantas e árduas que não tivemos tempo de arrumar a casa para recebê-lo.
Não temos tapete de couro de anta nem há imagens do Santeiro Duval. Mas, no quintal há um jardim em forma de coração e nele, milhares de pés de ¨ Rosa do Povo”.
Entra, Carlos, seja bem vindo!

A TRÍADE
Newton Baiandeira

No Pico do Amor a arquitetura de Niemeyer, a poesia de Drummond e a escultura de Amílcar se encontram.
Mais que uma convenção de artes, uma generosa ceia das almas itabiranas. Do Cruzeiro o Cristo testemunha majestosa comunhão de Magnífica Trindade.


RESTOS MORTAIS
Newton Baiandeira

Um corpo que regressa à alma que nunca saiu daqui.
Que venham os ossos de corpo e ofício: restos mortais de um imortal.
Que venham o Rio, o mar, o mundo.
E os Portais de Niemeyer.
E a crônica de Afonso.
E a postura da média.
E os holofotes da mídia.
E as mulheres de horizontes perfeitos.
Que venha o tempo a tempo dar quintais a vida!

MEDITAÇÃO
Newton Baiandeira

Virá do ato a conseqüência
Da inocência a sabedoria
E, na agonia do entremeio,
A alma fatigada buscará a paz.

CAMARIM
Newton Baiandeira

Ao final do grande espetáculo amar a dor.
Assim como o amor que nos foi tanto e farto.
Como um parto que dói e dá frutos

sábado, 9 de outubro de 2010

A CIDADE, O POETA, A ALMA DO FERRO


A cidade de Itabira completa 162 anos de emancipação política. Carlos Drummond de Andrade, 108 de nascimento. A cidade comemora com festa. E o cantor, compositor e poeta itabirano, Newton Baiandeira celebra com seu Outubro Poético.

A ALMA DO FERRO
Newton Baiandeira

Na terra da poesia o que de mais havia são pedras no caminho. A pedra fala sem voz. A voz se cala e por quanto mais se cale, mais à pedra vale. Onde pedra havia já não há caminhos. Só e ferrais esculturas de um tempo porto, de um rumo torto pra versos largos. E ao conflito das almas ainda se bate palmas de mãos surradas. Tudo ou nada vale a pedra mais que o caminho quando não há rumo.

OS PIONEIROS
Newton Baiandeira

Quando escavadeiras eram unhas, Lectra hauls eram balaios. Nosso combustível era a esperança, fé num futuro promissor. A gente já explorava o minério e as indústrias artesanais afloravam.
Tropeiros e carroceiros, pioneiros homens de ferro escreveram lendas e a história de um desenvolvimento que até hoje não veio.

JARDINS
Newton Baiandeira

A cidade guarda jardins descabidos, com flores teimosas que superam descuidos e descasos e florescem altivas. Surgem imponentes, varando gretas do absurdo, soberbas.
Ao desleixo proposto, em sua fala de flor parecem dizer: - ora, não tem importância!

O CHAPÉU
Newton Baiandeira

No inverno, mansamente, a névoa se debruçava sobre o Pico. Uma fantástica performance da natureza, oferecida aos olhos das gerações passadas.
Da varanda de alguma casa, no Campestre, Antônio Francisco Martins Soares, embevecido de tamanha magnitude, exclamava: “Olha o Pico do Cauê colocando o chapéu!”

SER ITABIRANO
Newton Baiandeira

Ser itabirano é
Contar
Vagões
Reverenciar
Drummond.
E, numa eterna alquimia, forjar de ferro e poesia um jeito especial de viver,
sonhar e administrar paixões.

AS PEDRAS
Newton Baiandeira

Tiraram as pedras das ruas e meus pés perderam a direção. Outros caminhos maiúsculos e sem pedras em seu meio os conduzirão ao ouro fácil, imaginam eles. Entre as pedras e os meus pés, algo suspenso, sigo em linha reta, abnegado, abengalado.
Apenas caminho sobre o moderno projeto, catando ausências, contando maus-olhados de homens que, cegos, não olham onde pisam. Vesgos, não pisam onde olham.

ARTE NO MURO
Newton Baiandeira

Uns trabalham na “segunda mineradora do mundo”. Outros e liberais pequenas empresas e salários os acolhem. Um muro social divide duas lâminas em silencioso, permanente combate. Nem de Sartre, nem de Fidel, Berlim ou China. Nem de pedras ou rosas. Nem de tucanos ou de urubus; a dividir vontades e idéias.
Muros deveriam servir somente às artes e encartes. Espaço de contato entre os olhos e o simples belo. Reações, transgressões: imagens inipócritas do eterno conflito entre bem e mal. Cabem ás manifestações e expressões do espírito como luvas aos dedos de Deus. Mais que divisor, um elo entre liberdades: eis ao que serve um muro.
Do pincel que se aproxima à tinta que tinge o muro há rimas de liberdade na via entre claro-escuro. Há meios inventando recomeços que não têm fim.
- Há um muro entre nós!
- Não, nós é que nos colocamos entre muros!


ÍMÃ
Newton Baiandeira
A gente respira fagulhas de ferro.
Alguém controla o ímã.
A gente anda na linha, dóceis vagões humanos.

LADEIRANDO
Newton Baiandeira

No céu a lua. No chão a rua. Via de regra, a rua sobe ou a lua desce e quase se tocam. Cidade de morros, Itabira, seus altos e baixos.

IMAGENS
Newton Baiandeira

De qualquer ponto da cidade via-se o Pico do Cauê e de lá, Belo horizonte. Os meus olhos jamais deixaram de rebuscar essas imagens, de recomporem essa visão para as novas gerações.

MEDITAÇÃO
Newton Baiandeira

Virá do ato a conseqüência.
Da inocência a sabedoria.
E na agonia do entremeio
a alma fatigada buscará a paz.

A LENDA
Newton Baiandeira

Tem uma serpente no subsolo de Itabira. A cabeça dela fica debaixo da Igreja do Rosário e sua calda embaixo do Pico do Cauê. Dizem que no dia em que o minério acabar, a fera vai reagir. E ninguém sabe medir a força de sua reação.

COLÉGIO SUL-AMERICANO
(tombado pelo IEPHA)
Newton Baiandeira

Ali dentro, inquirido, respondi a todas as questões. Aqui fora, me perguntaram o que era Tombamento e eu não soube explicar.

EXAUSTÃO
Newton Baiandeira

A ação do tempo esculpindo belezas perturba o ego do homem. O tempo não pode impedir o fenômeno da criação. O homem não sabe conter o seu ímpeto de destruição, sua saga. É como uma praga. Embriaga-se da vida e se mata.

TEMPO
Newton Baiandeira

Passado de ferro
Presente de pedra
Futuro de aço.
Inoxidável poesia itabirana
Indecifráveis homens de ferro.

A LENTE
Newton Baiandeira

Não me choca o minério arrancado.
Dói-me a paisagem deformada.
Fere-me a imagem perdida na memória.

CASA DO BRÁS
Newton Baiandeira

Miro a casa recém-retocada, entro. Ouço minhas pisadas. Ou passos do passado ecoando no presente? A emoção me dá asas, vôo, cômodos a dentro. Madeira e barro num desenho lógico me acomodam e incomodam. Quadros em paredes brancas revelam imagens, retratos de quem soube com maestria captar o que se passava entre luz e sombra na Itabira de seu tempo.

BASTANTE
Newton Baiandeira

A cidade de pedra, a pedra da alma dos homens; os homens de ferro, o ferro malhado a frio preenchem qualquer vazio que ouse aportar esse coração.

EM TRÊS TEMPOS
Newton Baiandeira

O homem do passado levou a terra à exaustão. No limiar da grande catástrofe, o homem do presente busca na preservação da natureza, meios de transformar o que ainda resta, num ambiente digno de acolher as gerações futuras. Meio-ambiente: O único meio de salvar a gente!

ITABIRA
Newton Baiandeira

Itabira é o verso que não tem rima. A magia que surpreende o mago. O primeiro trago no cigarro, após o café da manhã.
Itabira é a oração que o padre não aprendeu. A poesia que o poeta perdeu. A canção que não encontrou intérprete.
Itabira é tocar o horizonte com os olhos, abraçar o infinito com desejos e nunca tê-los escravos.
Itabira, meus senhores, é daqueles grandes amores que, por não sabermos amar, fechamos no peito e chamamos de saudade.

CAMARIM
Newton Baiandeira
Ao final do grande espetáculo amar a dor. Assim como o amor que nos foi tanto e farto. Como um parto que dói e dá frutos.