Newton Baiandeira
Era um sujeito indeterminado
Rogava, às sombras, pragas à luz.
E, sem contraditórios, fartava-se em gozo.
Quando, subentendido às orações, quase o
achavam, a uma vírgula de ser determinado
tornava-se o sujeito oculto, escapava por
metáforas e ponto final.
Newton Baiandeira
Camisa branca, calça curta azul
Distintivo a meio pau.
Não se via gente a metro
Só bruma à vista.
E o "Conga" escorregando entre
pedras de minério até o Grupo
Escolar Coronel José Batista.
Lições congelantes
De tremer o pingo do i.
Frio saber de coisas!
Newton Baiandeira
Ah, o amor!
Não fosse a dor, talvez não tanto o amasse.
Assim, não há o que lamentar de seu legado a mim:
Mel e sal, inferno e céu, bálsamo, vulcão.
Esse meu coração não cabe em si de perder-se,
De achar-se, ferir-se, curar-se à seiva da vida;
De dar-se de alma elevada ao tudo e todo orgasmo.
Queima-me! Rasga-me! Recolho meus pedaços
E de novo dou-me ao laminaço, de novo faço
E de novo me infinito aos findares e recomeçares.
Não me haveria vida sem amor ou amor sem chama
Há que queimar-se por alcançar o paraíso, o encanto.
Portanto, cruz pela luz, há que findar esse mundo, a
vida não!
Newton Baiandeira
Há vida em dúvidas e dívidas.
Há dívidas entre ter e ser.
Há dúvidas entre querer e poder.
Sem qualquer sombra de dúvida,
Sem qualquer sobra de dívida,
Somos o que somos.
E o que somos, nem sempre é o
que julgamos ser.
Ter não modifica isso. Apenas,
soma-se ao que somos.
Ao fim das contas, nada levamos.
Fica o que fomos, quiçá, sob aplausos.
À sombra da dúvida descanso.
Newton Baiandeira
Lá vinha o Manda Brasa.
Olhos que à névoa nada viam,
agora e então, ardiam por
fumaça de óleo diesel.
Inverno e inferno rimavam
espetáculos e obstáculos num
verso nada ecológico.
Newton Baiandeira
Eram os anos 1960 e eu adolescia. Era um JEEP velho, daqueles com um toquinho de madeira nas laterais do capô. Era um microfone que mal cabia às mãos do menino e mais, dava choques.
Casas, janelas, portas e terreiros; estradas, matas, caminhos e pinguelas, sempre lotados de gente, íamos entre cantos e falas pela Itabira a fora.
Eu cantava uma música e entregava o microfone. Daniel Grisolia falava umas coisas bonitas para as pessoas dos caminhos e me devolvia. Mas, logo retornava às falas bonitas e eu, doido pra cantar, ruminava ansiedades. O Jeep dançando em curvas e buracos.
Eu só voltava pra casa à noitinha, minha mãe a xingar rouquidões! Minutos de xingos, dias de moedas, doces e balas, aqueles!
Newton Baiandeira
O passado é a causa do novo.
Veio antes, cavou os caminhos
em que ora piso rumo ao futuro.
Em que tempo me sobra eu paro
Volto-me pra um alô: bença, vô!