
NAVEGAR
Newton Baiandeira
Rosa dos ventos
Estrela-guia
À calmaria meu barco vai
Velas além do cais
Onde o sol houver brilhar eu vou
Terras distantes por descobrir
Mares além
O amor me tem seu navegante
Imensidões
Riscos a ver
E o transcender me leva e me traz
Se me compraz
Do que viver
Meu navegar é mais
A DOR PELO RISO
Newton Baiandeira
À dor do calvário, queres matar o mundo?
A dor te consome?
A razão te corrói?
Quando tua alma, faminta de alegria,
sedenta de sonhos e vôos se acabrunha,
é ela, tua dor, que vai pro fogão
preparar-te o melhor prato de risos.
Ao suco de céus de nuvens claras,
guarnece-te de asas, te instiga
E te diz: Vai, gaivota,
dar corpo ao espaço
a seu modo e tempo.
A luz que te cega
pela cruz que carregas,
Vai gaivota, vadiar no paraíso!
MINHA ETERNA CANÇÃO
Newton Baiandeira
Dá-me um beijo profundo
Tão fundo que chegue a minha alma.
Coloque a palma da mão no meu ombro
Em toques sutis
Sem esperar o amanhã
Destrave o teu soutien
Bota teu seio entre nós
Minha fera felina
Minha alma latina, mulher!
Meu café da manhã,
Meu cigarro, meu hortelã
Bota teu ventre
Que entre macio
Entre as minhas coxas
Pasmo à mercê dos orgasmos
Que fazem jorrar
Seivas e semens febris
Ganidos de alma feliz
Suor de corpos em paz
Meu lugar no futuro
Meu porto seguro, mulher!
Minha ginga, meu gol
Minha eterna canção, meu show
A ESTRELA QUE ME DESTE
Newton Baiandeira
Como a flor que brota no jardim
Uma porta a se abrir à luz
Como o sol que adentra o universo
Feito um verso a penetrar
No compasso da canção
Como a lua, dominando o céu
Feito a tinta no papel
O sorriso no olhar
Como a aranha tece a teia
Como a abelha faz o mel
Como a noite faz a estrela
Como a estrela brilha ao léu
Como, um dia, tu vieste
Todo o agreste se encantou
E a estrela que me deste
Toda a terra iluminou
Feito um arco-íris no verão
Um corisco solto pelo céu
Feito alguma essência que se exala
Ensinaste-me a solidão
A saudade dói em mim
Ando, sem saber a direção
Feito um carro em contramão
Vivo perto de morrer
Como a trilha cabe à curva
Como a luva cabe à mão
Como a uva cabe ao vinho
Como a chuva à inundação
Foste, assim como vieste
Todo o agreste se calou
A estrela que me deste
Nunca mais no céu brilhou.
NAS TRINCHEIRAS DAS PAIXÕES -1988
Newton Baiandeira
Amava Júlia Ana
Solenemente Ana
Dois amores tão iguais
No abismo das paixões
Dançava Júlia
Ana cantava soberana
Em profanas traduções
Das trincheiras do amor
Duas almas nuas em fulgor
Contornando luas de amor
Quando a luz do sol
Desatava o nó
Julia e Ana se fundiam numa só
Ruborizada Ana
Alucinada Júlia
Duas almas numa só
Revelando o amanhecer
Desviando às plagas, contornando a multidão
Em segredo Ana e Júlia Juliana são
Amedrontada Júlia
Amenizante Ana
Duas almas numa só
Revelando o amanhecer
À luz que irradia
O amor de cada dia
Ana e Júlia vão iguais
Nas trincheiras das paixões