“Gente inteligente não se irrita ou reage precipitadamente. Reagir por deduções ou interpretações mal feitas, isso lá é coisa pra pseudócia. Ele, não cabe nele vestir carapuças. Ele é um senhor muito bem formado e por trás do jeito carrancudo um homem de bom coração. No máximo, minha criança, ele vai te passar um pito e só. Não é por qualquer capim seco que o burro vai dar coices. Pode dormir tranqüilo que o Bicho Papão não vai te pegar.”
Bastiana tinha uma forma peculiar de criar a prole. Suave ou ríspida, sua educação se sustentava em ditos populares ou frases que ela mesma inventava, num vasto repertório de espontaneidades.
Mas o menino não dormiria tão rápido sabendo que pesadelos o consumiriam naquela noite. Matara o pavão do Mestre? Nem tanto, mas, se não mentira ao confessar o crime, omitira seu potencial.
Na verdade, vira o cavalo baio e a égua rajada em pleno estado de cio. Pior, jogara pedra neles, como fazia com os cachorros trancados em cadelas.
“Ah, safado! Sem vergonha!” Gritara contra os eqüinos. O dono dos animais, sem que o menino percebesse, assistira a tudo. Seu grito ensurdecedor (“ah, moleque!”) fez o garoto sair em disparada pra qualquer mato mais perto, e lá, chicotes e talas, canivetes e facões, cintos e tacões de botas pisaram sua imaginação, rasgaram suas carnes e dançaram em sua alma.
Quase noite, voltara decidido a contar a mãe o acontecido. Omitiu as pedras atiradas e deixou à boa mostra apenas os xingos aos animais e a reação falada do Senhorzinho.
Não havia ali nenhuma carapuça buscando encaixes. O menino, deveras cometera o desastre e fantasmas, com toda a justiça, o puniam.
Bastiana dormiu certa de que gênios não se precipitam nem agem por interpretações ou suposições, sábios não se deixam vestir carapuças e grandes não se dão a pequenices. “Decerto ele compreenderá que o moleque não o xingara, referia se aos animais.”
O garoto, mea-culpa, fartou-se de lutas com dragões e almas de outro mundo por toda a noite.
O Senhor, sensato e lógico, deu o devido tempo ao fato e, maturação completa, procurou Bastiana e relatou o real acontecimento.
Por fim, contemplações consideradas, terríveis varas de marmelo conformaram apenas e oportunos pitos a sagradas promessas de “nunca mais eu faço, mãe!”.
LETRA DE MÚSICA
RUSTICIDADES
O que será do amanhã/
Além do Rogai por nós/
Se, quando a sós, Deus se negar/
Há que soltar a voz/
Há de brigar pelos seus direitos/
Feito um sujeito de bem/
Há que contar ideologias/
Ou ser escravo de alguém/
Há que pegar na construção/
Dar liga à massa, ralar/
Há que inventar, criar, fazer/
Acontecer, ganhar/
Há que suar o seu próprio rosto/
Pra ver o gosto que tem/
Há que aprender quanto vale a luta/
Para ser um homem de bem/
Sem nada mais a dizer/
Muito prazer, siga em paz
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