OLÁ, AMIGOS!

Como retribuir ao universo a dádiva da vida, pensava. Agradecendo a Deus todos os dias. Dividindo com o mundo o que de melhor me ocorresse na alma, o que eu mais amasse em mim. E respondia à minha própria busca: Arte, a única coisa que diferencia os homens. Eis então minha oferenda ao mundo, minha contribuição para a humanidade: minha arte. Melodia como veículo de minha poesia e vice-versa, minha arte sou eu, levando a quem quiser ouvir minha forma de compor, escrever e cantar o universo e o acontecer das coisas que vivencio. O que canto ou escrevo é o que há de mais profundo em meu coração. Rogo por agradar a quem me ouvir ou ler. Benvindos e obrigado pela visita! Newton Baiandeira





domingo, 3 de julho de 2011

MÚSICA, POESIA, SONORAS LETRAS



BRILHO DE AÇO
Newton Baiandeira

Quando se fala em Ita,de escandaloso amor, minha alma grita. Berro, um som tal qual bater de ferro em céu, ao silencioso sangrar. Estrelas de tolo, fagulhas dançam ao léu, fantástico balé de lâminas.
Ao escarcéu, pulmões talhados em aço e os regurgitares de ferrugem. À cortina/luz, o sapo ainda namora a lua. E o poeta, inevitável, ainda inventa horizontes e futuros, dos quais duvida.
A despeito disso, a arte que lhe é peculiar propõe outros lumes e a Ita, quando Bira, qualquer brilhar outro é mentira.
A tão consolo, a minha alma canta em compasso de trens e solavancos, desafinada.

POR VIAS E VEIAS
Newton Baiandeira

Nas minhas veias te vejo a correr em fuga. Vez e meia, sinto na alma essa ruga.

Nas vias te caço a tão cansaço e falta de prumo. Nas teias te traço, curvas e retas de emaranhado rumo, rotas que levam a solidões e ausências.

Ah, dor que dói grande! Em que te expandes, eis-me e então, lava de um vulcão que se fingia extinto.

Ah, paixão que me dilacera! Também, pudera! Esse coração torto, há pouco se fingia de morto. Há que rogar pragas no amor.

Ai, quão aguda dor! Fosse um condor e correria aos céus. Mas, nem cabe a céus curar vigarices.
Você passa e nem dá olhos. Você corre, e nem liga, em minha veia. E ainda, mal educada, me diz vazios de boca cheia.

DE ETERNO GIRO
Newton Baiandeira

Ah, o amor!
Não fosse a dor,
talvez, não tanto o amasse.
Assim, não há o que lamentar
de seu legado a mim: mel e sal,
inferno e céu, bálsamo, vulcão.

Esse meu coração não cabe em si
de se dar, se perder, se queimar: se
achar, receber, se curar à seiva da vida,
de alma elevada ao tudo e todo orgasmo.

Queima-me! Rasga-me! Recolho meus pedaços
e de novo dou-me ao laminaço, e de novo me infinito aos findares e recomeçares.

Não me haveria vida sem amor ou amor sem chama. Há que se queimar por alcançar o paraíso.
Portanto, cruz pela luz, há que findar esse mundo, a vida não!

ZÉ MIAMI, O PRÓDIGO
Newton Baiandeira

Viver já não lhe cabia
A morte mais seduzia, pois é
Queria matar o mundo
Ó, que desgosto profundo
Com o que pulsa redor
Comprou passagem de ida
Voltar, não quero essa vida
Deixa esse barco afundar

Atravessou o mar
Metendo o pau na pátria amada
Nem lixo pro lixão
Esse sertão não vale nada, sou zé

Involuntário da pátria
Curtido a leite da mátria, foi Zé
Eis que aos primeiros contatos
Já bem cuspia no prato
Que sua fome sanou
E nos states a vida
Deu numa rua perdida
Como a rainha mandou

Atravessou o mar
Quanta saudade da favela, José
E a pátria mãe curtiu
O filho pródigo com sambas, pois é

COISAS DA CAPANGA DA BASTIANA
Newton Baiandeira

Bastiana, lá na minha adolescência:
“Ah, se eu pudesse e meu dinheiro
desse, num havia coisa que eu num
fizesse! Eu ouvia encantado, seus ditos.

Eu, na juventude, ela a ouvir:
Ah, se sesse! Mas, num esse!
Ela, ainda ali, ouvia e retrucava:
Como é que a coisa anda depois
da morte de Miranda!” E eu: “Ué,
quem não tem cão caça com gato,
quem não tem gato, late!”

E ela sempre falava: ”língua de povo
é língua santa, não erra.” Quão desdita,
Bastiana se foi. Mas seus ditos ainda me
ditam rumos de versorrimação.

O CANTADOR
Newton Baiandeira

Eu canto por cantar
Eu componho por prazer
Canto pra penetrar
no universo da mente
Eu vivo da minha voz
Seresteiro, cantador
Canto pra semear
O quebrar das correntes
Canto esperança e fé
Liberdade e união
Canto quem anda a pé
E caminha sem direção
Quem vive ao Deus dará
Quem esmola, pedindo pão
Canto quem semeou
A semente do perdão

UMHOMEM SEM TERRA
Newton Baiandeira

A gente acorda antes do sol sair
Pra dividir os ossos e o porvir da profissão
É cada um no cabo de uma enxada
Em cada légua, uma terra lavrada pra plantar

Num sol de tranças vermelhas
Eu sou um homem sem terra

Ao por-do-sol, agradecer a Deus
Os filhos Teus não perdem a esperança do amanhã
A noite é triste, a viola ponteia
Mesa vazia, a cabeça cheia faz cantar

Nas noites de lua cheia
Eu sou um homem sem terra

A gente dorme, assim como se diz
Fechar os olhos, fingir que é feliz
negar a dor
Se Deus existe, a terra prometida é
uma esperança
Enquanto eu tiver vida, vou sonhar
Nas madrugadas sombrias
Eu sou um homem sem terra.

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